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Especialistas debatem a obra de Shakespeare. Evento marca os 400 anos da morte de um dos maiores escritores de todos os tempos

 

Foto: Beatriz Ferraz/Secom UnB

 

Três especialistas na obra de William Shakespeare estiveram nesta terça-feira (19) no auditório da Reitoria. O evento marca os 400 anos da morte do dramaturgo inglês.

 

"Uma das maiores referências da literatura mundial, Shakespeare é atemporal porque abraça temas profundos que expressam a natureza humana", resumiu o diplomata britânico Wasim Mir ao lembrar que série de celebrações devem acontecer este ano em todo o mundo em reconhecimento ao legado do escritor. "Autor mais traduzido do mundo, sua obra pode ser lida em mais de cem idiomas. Nos últimos dez anos, somente a peça Romeu e Julieta foi montada em, pelo menos, 24 países", diz Mir.

 

Sob mediação do pesquisador Marcos Formiga, do Núcleo de Estudos do Futuro da UnB (n-Futuros/CEAM), os professores da PUC Rio José Roberto de Castro Neves e Gustavo Franco – ex-presidente do Banco Central no governo FHC – falaram, inspirados em Shakespeare, sobre O homem e o Estado e Corrupção e destronamento, respectivamente. Fredric Litto, emérito da USP, falou sobre Shakespeare e o futuro.

 

"Shakespeare está preocupado com as perguntas, não com as respostas", iniciou Castro Neves para, em seguida, comentar as peças do dramaturgo e seus personagens. "Isso é fascinante na obra dele: não buscar estereótipos, mas estimular o questionamento."

 

O professor destacou a atualidade da obra de Shakespeare. “Encontramos os personagens dele em todos os lugares. No último domingo, por exemplo, vimos vários Ricardo III, várias lady Macbeth, hamletianos”, disse, em referência à votação do impeachment da presidente Dilma no Congresso. "A peça Ricardo II parece que foi escrita hoje. O que vale mais? O rei competente ilegítimo ou o rei legítimo incompetente?", questiona.

 

O economista Gustavo Franco também relacionou as peças do dramaturgo com o atual cenário político no país. "Corrupção monetária não é o que move os dramas associados aos vilões Cláudio, Ricardo III, Macbeth...", observa. Ele traça um paralelo com o episódio do mensalão no Brasil, "um projeto criminoso ligado à ideia de usurpação do poder", considera.

 

Fredric Litto ressaltou a influência da escola Crítica Nova da Universidade de Chicago, nos anos 1920, em sua interpretação da obra de Shakespeare. A mesma que definiu a forma como a crítica teatral Bárbara Heliodora, morta ano passado, analisava a obra do escritor inglês. "Era uma abordagem aristotélica da literatura e do teatro, mais conservadora. A leitura da obra acontecia de dentro para fora. Freud, Marx ou a biografia do autor eram excluídos da análise dos personagens", explica. "É preciso analisar com muito cuidado a obra de Shakespeare", alerta.

 

Segundo ele, o destino dos personagens era definido pelo caráter e o temperamento deles, mas também pela roda da fortuna, ou seja, o acaso. "Shakespeare pressagiava o futuro, imaginando um mundo de liberdade e justiça e menos opressão, por exemplo." 

 

Por fim, Litto criticou as universidades, que se concentram mais no estudo do passado do que no do futuro. "Não existem cursos que ensinem a imaginar cenários distópicos, desejáveis ou não. A universidade pode contribuir muito ao pensar o futuro."

 

Estiveram presentes no debate, o reitor Ivan Camargo, o coordenador do n-Futuros, Isaac Roitman, o decano de Pesquisa e Pós-Graduação, Jaime Santana, entre outros.

 

N.FUTURO – No próximo mês, será discutida a obra Utopia, de Thomas More. Em junho, será a vez de Dom Quixote, de Miguel de Cervantes.

 

O n-Futuros foi criado para refletir sobre a universidade no século 21. As sessões são abertas ao público.