DIA DOS PROFESSORES

Professores da UnB revelam atividades que realizam no tempo livre e relatam obstáculos do dia a dia da docência

Darcilene Rezende com escoteiros “São muitos os desafios de ser professor. As cargas burocráticas e de sala de aula são muito altas. Tem dias que estou cansada, mas quando entro em sala de aula, me aparece uma energia. É difícil explicar”, conta Darcilene Rezende, professora do curso de Arquivologia da Universidade de Brasília e instrutora do 14º Grupo Escoteiro Bernardo Sayão, da Asa Norte.

 

“Entrei no grupo há dez anos, quando meu filho se interessou pela atividade. Ele saiu e meu marido e eu ficamos”, relata. A docente conta que se dedica ao escotismo por questões muitos similares àquelas que a levaram à docência. “É um movimento de educação com uma linha de formar jovens, uma proposta muito interessante. E sempre me preocupei com a questão educativa. Eu aprendo todos os dias, o convívio com jovens é enriquecedor”, conta.

 

Darcilene ressalta que uma das dificuldades enfrentadas diariamente na sala de aula é a falta de preparo dos alunos do curso. “A escola hoje tem um viés muito conteudista e não se preocupa tanto em formar o jovem. Assim, temos alunos que ainda não perceberam que o professor só tem como mostrar o caminho, e não trilhá-lo”, diz.

 

Eloísa Caldas, professora do Departamento de Farmácia e coordenadora do Laboratório de Toxicologia da Faculdade de Saúde compartilha da visão da colega. “Tenho alguns alunos que se destacam muito, mas às vezes o desinteresse da maioria me deixa desapontada, porque me esforço muito e não costumo ser correspondida”.

 

Professora Eloisa anda de bicicleta usando capacete e óculos de sol
Eloísa Caldas vai todos os dias de bicicleta para o trabalho. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

Fora da Universidade, Eloísa pratica quatro vezes por semana, há 18 anos, corrida, natação e ciclismo. “Acordo todos os dias às 5h50. Entro no Parque Nacional de Brasília às 6h, corro 4 km e nado mil metros – já peguei 4°C na Água Mineral! Volto para casa, organizo minhas coisas, pego a bicicleta e venho para o laboratório”, conta. Ela se dedica aos exercícios físicos por questão de saúde e o ritual que segue hoje foi incentivado pelo marido. “Se me dissessem há alguns anos que eu faria isso com tanta constância, eu diria que estavam loucos. Mas a verdade é que acabei me viciando. Você sente que, às 7h30 da manhã, já fez bastante coisa”, complementa a professora, que diz ser uma das mais rápidas nadadoras do grupo de aproximadamente 30 pessoas que frequenta o parque quase diariamente.

 

Para a docente da Farmácia, o principal obstáculo enfrentado no dia a dia da UnB é conseguir financiamento para manter o laboratório que coordena. “Já comprei motor de freezer e gerador com meu dinheiro. O meu trabalho é o laboratório e dependo de insumos para que ele funcione”, desabafa.

 

Edileuza Souza, professora voluntária do Decanato de Extensão (DEX) que ministra as disciplinas Pensamento Negro Contemporâneo e Etnologia Visual da Imagem do Negro no Cinema, revela que uma grande dificuldade enfrentada por ela dentro de sala de aula é não ser reconhecida como docente. “A Universidade é branca e masculina. Ser mulher e negra já fez com que me confundissem com a senhora da limpeza”, exemplifica ela, que é militante de causas sociais.

 

Edileuza Souza faz parte do grupo Bordelando há quase seis anos. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

Edileuza participa há quase seis anos de um grupo de bordado e considera que a atividade a ajuda a relaxar e a ter ideias. “Bordar me faz pensar nos textos e organizar meus pensamentos sobre produção acadêmica”, conta, ao afirmar que borda em qualquer lugar. “Bordo o tempo todo, não paro as coisas que estou fazendo para bordar. Só se eu quiser organizar minhas ideias”, revela.

 

Ela conta que estudou toda a vida em escolas públicas e acredita que, de fato, é possível mudar o mundo. “Sou a primeira mulher da minha família a entrar no ensino superior e a primeira doutora. Tenho prazer em dar aula e acredito que uma nova universidade é possível. Além disso, acredito no amor. Por isso ensino e por isso bordo”, finaliza.

 

O diretor do Centro Internacional de Física da Matéria Condensada, Tarcísio Marciano, se envolveu com a música aos 20 anos e é autodidata. “Fiz algumas aulas quando era jovem, mas depois me instruí sozinho”, relembra.

 

Tarcísio Marciano é físico e músico por vocação. Foto: Beto Monteiro/Secom UnB

 

Ele diz que é comum físicos gostarem de música e cita famosos como Albert Einstein, que tocava violino, e Richard Feynman, que tocava bongô. “A estrutura musical e o ritmo são muito matemáticos. As notas de música ocidental são montadas em uma escala logarítmica. Não que eu pense diretamente nisso quando toco, mas me ajuda a relaxar”, conta.  Tarcísio toca baixo elétrico, violão, teclado e canta. “É muito saudável ter uma atividade artística para ocupar a mente”, avalia.

 

“Tanto a música quanto a docência são atividades intelectuais que me mantêm com a mente sadia. Elas são relacionadas e a atividade artística é muito importante para a condição humana. A arte é uma maneira de se relacionar com o mundo, só que em uma linguagem diferente”. A paixão pela música e pela física encontra um lugar comum no fala do professor, que soma mais de 30 anos dedicados à Universidade.

 

Quanto às atividades do dia a dia, ele destaca alguns aspectos difíceis de estar à frente do Centro. “Há muita instabilidade de recursos financeiros, então não é possível planejar algo a longo prazo”, relata. Mas, mesmo com as dificuldades, o professor afirma que é o que gosta de fazer. “É o que sei fazer na vida, produzir e disseminar conhecimento”, finaliza.

Palavras-chave