DUPLA CARREIRA

Hugo Parisi expôs desafios de conciliar treinos e estudos. Pesquisa desenvolvida no mestrado da FEF aponta que questão afeta boa parte dos esportistas

 

Superar dificuldades para conciliar carreira e estudos rendeu bons frutos a Hugo Parisi. Na imagem, o atleta olímpico ergue a tocha dos jogos do Rio 2016, no Complexo Aquático de Brasília. Foto: Agencia Brasil

 

As incompreensões marcaram a vida escolar e acadêmica do atleta de saltos ornamentais Hugo Parisi. Multicampeão na América do Sul e representante do Brasil em quatro olimpíadas, ele teve de mudar de escola e negociar com muitos professores para evitar reprovações. Os desafios enfrentados pelo saltador foram compartilhados durante a penúltima apresentação do I Seminário Internacional sobre Dupla Carreia Esportiva, na tarde desta quinta-feira (24), na Faculdade de Educação Física (FEF).

Nascido em Taguatinga e com a maior parte de seus treinamentos realizados no Distrito Federal, Parisi contou que a tarefa de conciliar treinamento e estudos se torna mais difícil após os 14 anos de idade. Ele, que iniciou a carreira aos sete e completa 34 anos em agosto, afirma que é comum o desconhecimento das diferenças entre as rotinas do alto rendimento e as do esporte de fim de semana. “A gente falta [aula] porque está se dedicando a algo em que acredita, não por mero lazer”, justifica.

O atleta conta que precisou mudar de escola na adolescência, quando foi treinar no Rio de Janeiro. As aulas eram em tempo integral e em alguns dias da semana e ele não conseguia acompanhar. Ainda na capital fluminense, ingressou nas faculdades de fisioterapia e de propaganda e marketing. Desistiu da primeira graduação na primeira metade do curso e completou a segunda em Brasília. “Devido aos treinos, pedia para fazer sozinho os trabalhos que eram em grupo”, relata.

Hugo Parisi mencionou o contraste entre a realidade esportiva brasileira e a de países desenvolvidos, como os Estados Unidos. “É totalmente diferente. O esporte lá é uma ferramenta para se buscar bolsa nas universidades”, explica. Apesar dos obstáculos enfrentados na terra natal, ele conta que recusou convites para treinar fora e que as dificuldades não interferiam em sua determinação nos treinos.

Já com olho no pós-carreira, o atleta concluiu curso na área de gestão esportiva e passou a parafrasear declaração atribuída ao nadador campeão olímpico César Cielo. “Cansei de adequar minha vida aos treinos. Agora vou adequar os treinos à vida.”

BOLSAS – O encerramento do seminário abordou ainda o perfil de assistidos pelo Bolsa Atleta do Distrito Federal. Os estudantes de mestrado da FEF Iuri Scremin e Fernando Martins apresentaram análises estatísticas e informações históricas do benefício, regulamentado no início da década passada. O objetivo geral da pesquisa é “caracterizar o contexto social, esportivo e educacional dos indivíduos beneficiados entre 2014 e 2015”.

A avaliação considerou amostra de 70 atletas e constatou que 97% deles tentaram conciliar a dupla carreira. Apesar dos recorrentes abandonos da trajetória esportiva observados na amostra, o trabalho sinaliza que “o esporte não é barreira para a progressão educacional em alto nível”. Os pesquisadores informam que o levantamento tem caráter exploratório e terá continuidade com abordagem qualitativa decorrente de entrevistas.

OUTRAS DISCUSSÕES – A última manhã do evento contou com a apresentação do professor português Antonio Figueiredo. Vinculado à Universidade de Coimbra, ele trouxe informações sobre a dupla jornada na perspectiva europeia. O seminário, iniciado na quarta-feira (23), trouxe ao todo oito palestras, seguidas de debates.

O I Seminário Internacional sobre Dupla Carreira Esportiva teve cerca de cem inscritos e foi organizado pelo recém-estabelecido Grupo de Pesquisa sobre Dupla Carreira Esportiva (DuCa/FEF) e recebeu financiamento da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAP-DF), com apoio do Conselho de Regional de Educação Física do DF e dos laboratórios de Pesquisa em Educação e Corpo (Labec/UFRJ) e de Pesquisas sobre Gestão do Esporte (Gesporte/UnB).

ATENÇÃO – As informações, as fotos e os textos podem ser usados e reproduzidos, integral ou parcialmente, desde que a fonte seja devidamente citada e que não haja alteração de sentido em seus conteúdos. Crédito para textos: nome do repórter/Secom UnB ou Secom UnB. Crédito para fotos: nome do fotógrafo/Secom UnB.