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Levantamento conduzido pelo Centro Integrado de Cartografia Aplicada traz repercussões do afastamento, com versões em português e inglês

Foto: Reprodução

 

Uma série de mapas elaborados pelo Centro Integrado de Cartografia Aplicada (CIGA) identificam a cartografia do impeachment. O trabalho, disponibilizado em agosto, foi complementado com a conclusão das votações do julgamento que afastou Dilma Rousseff definitivamente da presidência. Nas imagens, é possível encontrar dados, como o número de votos, o fluxo dos senadores e a visibilidade dos partidos políticos, bem como sua concentração em determinados locais.

 

Responsável pela apresentação dos dados, o professor Rafael Sanzio explica que o levantamento visa possibilitar análises da estrutura política espacial do país. “Podemos observar claramente que a divisão do país tem uma de suas origens no desequilíbrio entre as regiões. Os mapas de fluxos dos senadores e a cartografia do impeachment na Câmara dos Deputados mostram dois Brasis: o do Norte e o do Centro, com pouca expressividade, e a outra metade pungente”, ressalta.

 

Os dados serão utilizados para comparar mudanças nos mapas geopolíticos internacionais. “São dados que embasam a história contemporânea”, completa o professor.

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“É possível ver no mapa da geopolítica algumas reações ao estabelecimento do governo transitório [de maio a agosto de 2016]. A OEA pediu explicações ao Itamaraty, que as respondeu, mas não tornou suas fundamentações públicas; a sede da União Europeia e alguns países africanos ficaram receosos. Durante o processo, estávamos sendo observados, nossas relações não estavam muito estáveis”, pondera Sanzio.

 

Professora do Departamento de Geografia, Regina Maniçoba considera que as relações com a América Latina serão as mais afetadas pelo processo de impeachment. “O Mercosul pode ser muito abalado, ainda não temos como saber o quanto. O momento é de observar porque o novo governo ainda é muito recente”, explica.

 

Para Fernando Sobrinho, professor do Departamento de Geografia, um representante do PMDB na presidência da República pode impactar políticas que afetam diretamente as áreas urbanas. “Esse será provavelmente um governo de dilema. Se ele mantiver os programas sociais, pode perder a base aliada. Se os cortar, será ainda mais impopular”, pondera.

 

PÓS-IMPEACHMENT – Alguns dos cenários identificados nos primeiros mapas do CIGA começam a demonstrar seus desdobramentos. Três países convocaram seus embaixadores e um emitiu comunicado criticando o impeachment. “O Brasil tem muitos trunfos geográficos. Por ser um país de dimensões continentais e ter muitos acessos, não passa despercebido. Continuamos em observação após o impeachment”, explica o professor Sanzio.

 

Os outros países que compõem os BRICS – Rússia, Índia, China e África do Sul –, que são importantes parceiros comerciais do Brasil, reconheceram a legitimidade do governo de Michel Temer.

 

 

De acordo com o mapa do CIGA, Cuba, Venezuela, Nicarágua e Bolívia protestaram contra Temer durante o plenário da Organização das Nações Unidas (ONU) e Bolívia, Uruguai, Equador e Venezuela expressam ilegitimidade ao novo governo.

 

Professor do Instituto de Ciência Política, Antônio Brussi considera que a questão é diplomática e não irá afetar as relações comerciais. “O Brasil não vai para de comprar gás da Bolívia em hipótese nenhuma, por exemplo, porque senão não tem outro gás. As empresas fazem o possível para manter o bom relacionamento e o comércio deve continuar”, explica.

 

Carlos Abreu, professor do Instituto de Geociências, considera que a importação de gás da Bolívia para o Brasil permanecerá inalterada, assim como a de petróleo. “Dos países que protestaram, o mais importante é a Bolívia. Cerca de um terço do nosso consumo de gás vem de lá. Mas esse comércio é uma área com bastante tolerância e não deve ser afetado”, opina.

 

Ainda segundo o docente, as relações diplomáticas podem causar impactos em organismos internacionais, como a Organização dos Estados Americanos, mas não devem sair desse âmbito. “A minha leitura pessoal é que, no contexto latino-americano, não haverá problema. A defesa de alguma posição do Brasil na OEA pode ser contestada ou rejeitada, tratada de uma maneira crítica", examina.

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