HISTÓRIA

A tradicional Barbearia do Chico completa 50 anos. Desde 1977, estabelecimento está localizado em módulo projetado por Niemeyer

 

Patrimônio da UnB, barbearia do Chico (de pé, à esquerda) é ponto de encontro de gerações. Foto: Arquivo pessoal

 

De que é feita uma história? No caso da Barbearia do Chico, é composta por muitos cortes de cabelos, barbas e bigodes. Todos eles, entremeados por horas de conversas entre o barbeiro Francisco Bertoldo de Amorim, o Chico que dá nome ao estabelecimento, e sua fiel clientela. Comenta-se política, economia, futebol – na barbearia, fala-se de tudo. Todos esses ingredientes, pouco a pouco, ajudam a compor a memória da Universidade de Brasília.

 

A barbearia é patrimônio histórico da UnB e funciona no campus Darcy Ribeiro desde 1967. No início, ocupava o espaço da OCA 1, mas um incêndio no local, em 1977, culminou na transferência de Chico e seus equipamentos ao protótipo de habitação estudantil projetado por Oscar Niemeyer, localizado em meio ao estacionamento sul do Minhocão. 

A reitora Márcia Abrahão e o barbeiro Chico se alegram no descerramento da placa em homenagem ao cinquentenário. Foto: Luís Gustavo Prado/Secom UnB

 

Nesta sexta-feira (5), alunos, professores e servidores da UnB se reuniram para saudar a fidelidade cinquentenária. Na ocasião, a reitora Márcia Abrahão inaugurou uma placa comemorativa. “Lugares como a Barbearia do Chico e outros importantes espaços fazem parte da rica história da Universidade. São a nossa memória viva”, celebrou.

 

Alberto Costa Rezende, estudante de Engenharia Civil, corta o cabelo na barbearia há mais de quatro anos. “Conheci a barbearia logo que entrei na UnB e vou frequentar este lugar mesmo depois de me formar. Adoro conversar com o Chico. O espaço é agradável e democrático”, afirma.

 

Outro frequentador assíduo é o empresário Luiz Carlos Fonseca. Ele concluiu a graduação em 1994 e manteve a tradição. "Corto o meu cabelo aqui desde que era calouro. Hoje, trago os meus filhos para eles conhecerem um pedaço da história da UnB."

 

DIGNIDADE – Após tantos anos de trabalho, Chico fala com a autoridade de quem conhece a Universidade como a palma da sua mão. “Já estou aqui há bastante tempo. Nessa Universidade, vi entrar e sair todo tipo de gente. Na minha cadeira já se sentou até embaixador”, comenta.

 

Com orgulho, ele relata o fato de já ter cortado os cabelos de alguns reitores da UnB, como Cristovam Buarque, João Cláudio Todorov e Lauro Morhy. “Sempre tratei todo cliente da mesma forma. Independentemente de ser ele aluno, professor ou o mais simples funcionário. Até hoje, ninguém me faltou com o respeito”, diz.

 

DIVERSIDADE – Pelas características do serviço executado, uma barbearia, a princípio, é identificada como um espaço exclusivamente masculino. Chico trata de desfazer essa ideia. “Aqui corto cabelos tanto de homens como de mulheres. Para mim não tem diferença. Sentou na cadeira, é cliente." 

A tradição da profissão de barbeiro passa de pai para filho. Foto: Luís Gustavo Prado/Secom UnB

 

O experiente barbeiro conta que pretende permanecer no ofício até quando as condições físicas permitirem. “Enquanto as minhas pernas tiverem forças para me trazer ao trabalho, eu continuo aqui no meu cantinho”, promete. Entretanto, ele admite a possibilidade de “passar o bastão” para que seu filho Rodrigo prossiga à frente do negócio. “O meu filho trabalha comigo há muito tempo. Confio nele. Ele está pronto para assumir o serviço e continuar a história que comecei lá atrás”, projeta.

 

A biografia do escritor norte-americano Charles M. Schulz traz algumas regras básicas para que um barbeiro trabalhe bem e sempre agrade a sua clientela, por mais exigente que ela seja. Entre elas: manter uma boa postura; cultivar o sorriso e um semblante convidativo; praticar, constantemente, a amizade; falar de maneira clara; ser um bom ouvinte, pois um bom ouvinte faz as perguntas certas; ser, essencialmente, informal; e, por fim, trabalhar com alegria. Esses 50 anos de história testemunham o quanto o barbeiro Chico conhece e segue os conselhos de Schulz.

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