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OPINIÃO

Priscila Rossinetti Rufinoni é professora do Departamento de Filosofia da UnB. Graduada em Filosofia pela USP e em Artes pela Unicamp, é mestre em Artes e doutora em Filosofia, ambos pela USP. Editora da revista Temporal - prática e pensamento contemporâneos. Atua nos temas Filosofia da Arte, Estética, Ética e Modernidade.

Priscila Rufinoni

 

Na semana do dia 16 de maio, o Departamento de Filosofia da UnB, fundado oficialmente em 1986, chega aos 30 anos. Chega, como se costuma dizer, à idade da razão, momento de fazer um balanço sobre sua função e inserção na Universidade e na comunidade. O Departamento chega à maturidade em um momento no qual os debates que envolvem noções filosóficas se acirra, termos como ideologia, legitimidade, campo político, entre outros, todos próprios ao contexto cultural formativo da área, estão em voga, muitas vezes sem as devidas reflexões necessárias. Estão na ordem do dia, mostrando-se mais que abstrações conceituais, mostrando-se como conceitos ativos na nossa vida. Assim, se esse é um momento de festa para nós, é momento também de nos questionarmos: qual nossa função na universidade, na sociedade moderna e, primordialmente, no ensino médio?

 

Um departamento de filosofia era previsto já nos primeiros desenhos da universidade, em complemento ao Instituto de Teologia, cuja vocação ecumênica pedia um núcleo de formação filosófica ao mesmo tempo próximo à teologia e dela independente. O Instituto, a cargo do Dominicano Frei Mateus, articulador de primeira hora da UnB junto a Darcy Ribeiro, era de importância central na concepção da universidade, haja vista a bela construção que lhe seria destinada, com projeto de Oscar Niemeyer e Lelê. Prédio hoje pertencente ao GDF, mas que ainda serve de portal de entrada à UnB, na avenida L2. Ruína do projeto que não se consolidou.
 

Frustrada essa primeira ideia com a intervenção militar, o reitor Zeferino Vaz ainda tentou tirar do papel um departamento de filosofia, convidando o intelectual Ernani Fiori para, com sua vivência fomentada nas universidades do Sul e em comunicação com a América Latina, pensar uma experiência filosófica exemplar para o país, tendo em vista o caráter modelar da própria UnB. Experiência mais uma vez frustrada pela incidência governamental sobre a autonomia universitária,  cancelando a nomeação de Ernani Fiori por questões políticas. Tal fato implicou a saída do próprio Zeferino e intensificou a crise que culminaria na demissão em massa de docentes, em 18 de outubro de 1965, desmanche do projeto original da Universidade de Brasília.


 
Durante os anos 70, cursos de Filosofia se constituíram como uma espécie de complemento aos graduados formados em outras áreas, cumprindo uma das prerrogativas da área de Filosofia: a sua interdisciplinaridade intrínseca. Com um currículo mínimo, o curso, entretanto, não possuía vestibular ou carreira própria.

 

O Departamento foi fundado enfim nos anos 80, como um curso de graduação independente. Em clima de redemocratização, a reitoria reassumiu as promessas progressistas de Darcy Ribeiro, tristemente abortadas pelo regime militar, reintegrou vários dos perseguidos das décadas anteriores e retomou, por assim dizer, algo do projeto inicial da UnB, do qual a Filosofia era elemento central. A criação da graduação levou à elaboração de um currículo mais completo, que, em vistas do currículo mínimo anterior, pecava pelo contrário.

 

De um currículo complementar a um currículo por demais complexo, as experiências do Departamento foram se somando, na formação de licenciados e bacharéis, muitos dos quais viriam a integrar o corpo docente do FIL. Vale lembrar que, nesse meio tempo, o Departamento também investiu em uma pós-graduação que, recentemente, veio a dar seu passo mais decisivo, constituindo-se em Doutorado, no ano de 2016.

 

Experiência acumulada que seria, mais uma vez, interceptada pelos destinos políticos do país, com a renovação do REUNI, cuja incidência fez com que se revissem currículos, se ampliassem as áreas de interesse. Atualmente, o Departamento, produto desses movimentos histórico-políticos, se apresenta como em expansão, em reformulação, na ponte entre o que foi e o que será, ainda em compasso de implementação de novas políticas formativas.

 

Nessa história de experiências acadêmicas e educacionais, a Filosofia da UnB respondeu à nova política de ensino que, nos anos 90, decretou a Filosofia como conteúdo obrigatório nos currículos de ensino médio. O desafio nos põe novamente diante da necessidade de pensarmos nosso papel, como área eminentemente interdisciplinar de formação de conceitos, cuja ação incide na vida de todos nós e é, portanto, conteúdo fundamental à formação de todos. A Filosofia da UnB atualmente se constitui como um núcleo de debates contemporâneos com interfaces que vão da Filosofia da religião, às Artes, Ciências e Política. As ênfases de pesquisa voltam-se também ao ensino de filosofia de forma geral, com sua importância formativa no ensino médio, exatamente como forma de desnaturalizar conceitos e fomentar um debate crítico da atualidade, a partir da tradição.

 

Nos seus 30 anos, o Departamento vem convidar a comunidade para conhecer seus trabalhos multidisciplinares, as várias perspectivas de análise dos problemas contemporâneos, em uma linguagem ao mesmo tempo aprofundada e aberta ao debate publico, com a sua 44ª Semana de Extensão – Filosofia e experiência, que ocorrerá no Memorial Darcy Ribeiro, entre 16 e 20 de maio.


 

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