OPINIÃO

Christina Maria Pedrazza Sêga é professora aposentada da Universidade de Brasília e doutora em Ciências da Comunicação (Universidade Nova de Lisboa).

Christina Maria Pedrazza Sêga

 

Se não fosse uma novela de época a colocar o nome de D. Pedro II na fazenda que faz parte do cenário da trama com a instalação de telefones, comunicação trazida por esse ilustre cidadão brasileiro, D. Pedro II teria ficado no ostracismo pela mídia nacional em seus 190 anos de nascimento (Rio de Janeiro, 2/12/1825). É oportuno, então, fazer-lhe uma homenagem pelo homem de ciência, arte e comunicação que ele foi, particularmente no mês em que muitos meios de comunicação comemoram seus aniversários bem como o Dia Nacional da Comunicação (5/5) e que o Vaticano vai celebrar, este ano, o Dia Mundial das Comunicações Sociais em 8/5, data que sempre corresponderá ao primeiro domingo que precede a Festa de Pentecostes.


Elogiado por uns e criticado por outros pela sua governança política, o segundo e último monarca do Brasil Império foi um homem culto e rico, porém muitíssimo solitário, sofrendo abandono logo na infância pela própria família abastada. Assoberbado pelas atividades futuras que o esperavam, enclausurou-se em seus aposentos na companhia de livros e mais livros que passaram a dar-lhe um pouco de alegria pelos conhecimentos descobertos, desde sua infância, sem o apoio de um sábio mestre. Teve a supervisão de seus tutores que se empenharam na formação de sua personalidade para que não tivesse o caráter irresponsável de seu pai. Mesmo não sendo um gênio, foi um homem disciplinado nos estudos e conhecimentos que o levaram a estabelecer contatos com respeito e admiração de cientistas, literatos, filósofos e músicos como Louis Pasteur, Charles Darwin, Graham Bell, Victor Hugo, Nietzche, Wagner e outras renomadas personalidades.


Seu império, que durou meio século, passou por várias crises e guerras políticas. Contudo, conseguiu prosperar e estabilizar economicamente o país. D. Pedro II é considerado patrono das artes e das ciências no Brasil por não medir esforços para que o país tivesse acesso a isso e também à comunicação. Acredita-se que, por razões políticas e militares, foi dado a Marechal Rondon (1865-1958) o título de patrono das comunicações do país por ter implantado as linhas telegráficas ligando o centro-oeste e norte ao sudeste. Outra razão é que o exército brasileiro fazia uso constante da telegrafia para a comunicação e fins específicos. No entanto, o telégrafo chegou ao Brasil alguns anos antes do nascimento de Rondon, durante o governo de D. Pedro II, que também presenciou a instalação de outras linhas telegráficas.


Sob a determinação do Imperador surgiu a filatelia brasileira com o selo Olho de Boi, o segundo selo do mundo a ser circulado nacionalmente entre 1843 e 1844, um dos mais raros e procurados pelos filatelistas até hoje. Também foi o responsável pela chegada do telefone na terra do pau-brasil, em 1878, dois anos após sua invenção. Disse Charles Darwin: “O Imperador faz tanto pela ciência, que todo sábio é obrigado a demonstrar a ele o mais completo respeito”. D. Pedro II dava tanto valor à educação que chegou a declarar: “se eu não fosse Imperador, eu gostaria de ser professor. Eu não conheço tarefa mais nobre do que direcionar as jovens mentes e preparar os homens de amanhã”.


Faleceu em Paris sem o apoio do governo brasileiro que se negou a prestar-lhe homenagens. O governo francês fez-lhe as honras. Rumores parisienses comentaram, na época, que seu funeral recebeu uma imensa multidão de pessoas assim como o do escritor francês Victor Hugo. Foi sepultado em Lisboa, ficando lá até 1920 quando foi transladado para a cidade do Rio de Janeiro e depois para Petrópolis.


Amou seu país como tantos brasileiros que se empenharam e se empenham com afinco para seu desenvolvimento e progresso. Bem tardiamente teve seu mérito reconhecido no Brasil, recebendo a alcunha de “O Magnânimo”.

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