OPINIÃO

Alexandre Pereira da Rocha é doutor em Ciênciais Sociais pelo Centro de Pesquisa e Pós-graduação sobre as Américas (CEPPAC), da Universidade de Brasília.  Graduado e mestre em Ciência Política pela UnB. Tem experiência na área de Ciência Política, com ênfase em política brasileira, teoria geral do Estado, administração pública, partidos políticos, legislativo, segurança pública, violência, criminalidade, polícia, estudos comparados.

Alexandre Pereira da Rocha

 

O ano de 2015 foi difícil. Assim, se tivesse de ter algum aviso para iniciá-lo, em tempo, esse poderia ter sido: “Deixai toda a esperança, ó vós que entrais”. Essa advertência – parte de uma alegoria sobre o inferno na obra Divina Comédia, de Dante Alighieri – seria oportuna para precaver os brasileiros das decepções que enfrentariam no campo da política ao longo de 2015. É triste. Nesse ano, por conta das vicissitudes da política, o medo retomou o lugar da esperança.

Não dá para esconder. Os medos do desemprego, da miséria, da inflação, da falência, do despejo estão à porta dos brasileiros. Tais medos, que pareciam coisas de um passado remoto, ressurgem motivados pelas incertezas quem rondam os cenários político e econômico. Ora, uma constante de atitudes irresponsáveis ou criminosas de representantes do povo, sobretudo de alguns ocupantes dos mais altos postos da República, lançou o país num mar de ceticismo.

Em vez de política, o ano de 2015 foi marcado pelas operações policiais e judiciais de combate à corrupção. Só a operação Lava-Jato apontou que práticas corruptas de empreiteiros, banqueiros e políticos teriam desviado mais de R$ 40 bilhões dos cofres públicos. No epicentro desses esquemas de corrupção está o próprio o governo federal comandado pelo Partido dos Trabalhadores (PT), que desde o caso do mensalão, tem visto alguns de seus ilustres membros e prosélitos serem alvos de investigações, acusações, condenações e, inclusive, prisões.

Com efeito, a presidente Dilma Rousseff enfrentou um ano difícil. Nas ruas, estouraram diversos protestos embalados pelo coro “fora Dilma”. Já no âmbito institucional, a oposição, principalmente aquela alinhada ao presidente da Câmara Eduardo Cunha, cresceu em decorrência da vulnerabilidade do governo. Note-se: daí surgiu um duelo particular entre Dilma e Cunha. De um lado, ela somatizando toda a rejeição que o PT angariou durante esses anos em que está à frente do Planalto; do outro lado, ele encarnando todo o ressentimento que a oposição carrega por ter perdido as últimas eleições presidenciais.

Para inviabilizar definitivamente o governo Dilma, o presidente da Câmara lançou mão de estratégias agressivas. Por exemplo: colocou em votação várias proposições que tinham o poder de aprofundar o quadro deficitário das contas do governo federal. Em represália, o governo passou a promover o discurso de destituição de Cunha da presidência da Câmara, visto que ele também consta na lista dos acusados da Lava-Jato. A resposta de Cunha foi acatar um dos vários pedidos de impeachment contra a presidente Dilma. Daí o Congresso virou uma zona de guerra permeada por acusações, xingamentos, agressões entre parlamentares governistas e oposicionistas.

Para arbitrar a truncada relação Executivo e Legislativo no âmbito federal, o Judiciário foi acionado. Coube ao Supremo Tribunal Federal (STF) avaliar questões de ordem política, sobretudo as relacionadas ao pedido de impeachment de Dilma. Entretanto, esse poder não trouxe luz ao obscurantismo que tomou a política em 2015, porquanto suas decisões foram paradoxais. Desse modo, o próprio STF ficou taxado de ser conivente com os vícios do sistema político.

Nesse drama a economia recuou. Em vez de desenvolvimento, ressaltaram-se governos endividados e incapazes de manter o mínimo de funcionamento dos serviços públicos de educação, saúde e segurança. Só o governo central encerrou o ano com mais de R$ 50 bilhões de déficit primário. Decerto a tensão vivenciada pelo governo Dilma impactou no ânimo do mercado, ou seja, intrigas políticas estorvaram os bons ventos da economia que aqui sopraram por algum tempo.

Para tentar superar os entraves da política e da econômica, o governo Dilma idiossincraticamente teve de propor medidas que o expuseram ainda mais. Medidas que, conquanto razoáveis num contexto de crise, como, por exemplo, redução de gastos na área social, eliminação de ministérios e cargos comissionados, ajustes fiscais, aumento de impostos; tinham o efeito perverso de provocar cizânia na própria base governista e potencializar a impopularidade da presidente Dilma. Resultado: tais medidas pouco avançaram e a crise econômica se agravou, o que tem representado mais munição para a oposição.

Por conta disso tudo, o ano de 2016 se inicia sob o manto da desconfiança. A questão do impeachment da presidente Dilma ainda está em aberto, logo o governo, antes de qualquer coisa, terá de concentrar esforços para se manter no Planalto. Enquanto isso, a oposição liderada pelo deputado Cunha parece que prosseguirá na empreitada de implodir o governo a qualquer custo. No meio dessa disputa, há pouca expectativa de reaquecimento da economia.

Em suma, embora com a alvorada de um novo ano a esperança se renove, paira o medo de que o campo da política permanecerá defectivo e sem autoridade para retirar o país da crise. Para os brasileiros restam incertezas, portanto.

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