OPINIÃO

José Alberto Vivas Veloso é professor aposentado da Universidade de Brasília e criador do Observatório Sismológico (SIS), da mesma universidade. Graduado em Geologia, mestre em Geofísica pela Universidad Nacional Autónoma de México, estudou Sismologia no International Institute of Seismology and Earthquake Engineering, no Japão. Trabalhou na Organização das Nações Unidas, em Viena (Áustria), na montagem de uma rede mundial de detecção de explosões nucleares. É autor do livro O terremoto que mexeu com o Brasil.

José Alberto Vivas Veloso

 


No Brasil, quando se fala de terremotos, o Observatório Sismológico da Universidade de Brasília é sempre lembrado. Tornar-se referencia nacional não foi tarefa fácil e nem trabalho veloz. Ações de pessoas se entrelaçaram para construir uma entidade de respeito, mas cujo percurso histórico é hoje quase desconhecido. Parte dessa história começa com a chegada de uma expedição britânica para verificar a possibilidade de estabelecer um moderno sistema sismográfico no Distrito Federal. Após meses de intenso trabalho, os estrangeiros observaram o sucesso de sua missão; em suas mãos as primeiras gravações sísmicas vindas de sensores situados a quilômetros de distância. Os dados chegavam por rádio-transmissão às antenas montadas em torres circundando uma construção de madeira erguida na região norte de Taguatinga, próxima do limite sudoeste do Parque Nacional de Brasília. Era 29 de outubro de 1966.

 

Desde aquela primavera correu meio século, a idade da Sismologia na UnB, que não mais deixou de registrar terremotos. Hoje, cinquentona, ela é merecedora de comemorações, pois fortaleceu-se, ultrapassou as fronteiras do campus, adquiriu respeito, enfim, fez sua história e tem o que mostrar. Observador privilegiado por manter ligação direta, ou muito próxima com a Sismologia, acabei vivenciando e testemunhando acontecimentos durante três décadas. Como contribuição às festividades dos 50 Anos, escrevi o livro A Sismologia na Universidade de Brasília, especialmente para valorizar o fato de ela ter sido construída por muitos e hoje lembrada por poucos.

 

Em termos instrumentais, a Sismologia da UnB nasceu poderosa. Aquele projeto britânico vingou e foi implantado um sofisticado arranjo sismográfico em solo brasiliense que, no Hemisfério Sul, só tinha similar na longínqua Austrália. Paralelamente, os norte-americanos ofertaram uma outra estação integrante de um sistema padronizado de 120 outras espalhadas pelo Globo. Os geocientistas agradeciam, pois mais estações significava maior poder para estudar os terremotos e decifrar o interior da Terra. Porém, os sensíveis sismógrafos tinham outra finalidade também, detectar explosões nucleares especialmente da União Soviética, em tempos de Guerra Fria.

 

No meio desses acontecimentos a Sismologia da UnB crescia e ampliava estudos para conhecer a sismicidade brasileira. Ela foi a primeira instituição a instalar sismógrafos na Amazônia e demais regiões, a organizar expedições sismográficas pelo interior do País, a investigar sismicidade induzida por reservatórios hidrelétricos, a construir instrumentos sismográficos e a modernizar seu próprio instrumental de registro e de tratamento de dados. Interagir com a Defesa Civil foi positivo e fez a Sismologia atentar para o aspecto social dos atingidos pelos sismos. Foi acertado firmar convênios de objetivos diversos, incluindo o de  implantar outros sistemas sismográficos em Brasília. A Sismologia recebeu recursos financeiros de grandes instituições de fomento à pesquisa, mas também dedicou-se a prestação de serviços para empresas energéticas. Isso possibilitou angariar fundos para melhorar sua infraestrutura interna, contratar pessoal temporário, oferecer bolsas a estudantes; até o seu edifício próprio foi construído assim. Antes da chegada dos anos de 1990 expressiva conquista, o surgimento de uma nova identidade acadêmica na UnB. Seguindo processos institucionais foi aprovado a transformação da antiga Estação Sismológica, administrativamente um simples laboratório, em Observatório Sismológico, um órgão equivalente a um departamento no organograma funcional da UnB.

 

Resgatar o “ontem” foi o objetivo de meu livro, pois agora os jovens integrantes da Sismologia da UnB constroem o “amanhã” com novos projetos, diferentes ideias e mais opções de pesquisas. Por isso, o conhecimento sismológico do Brasil vem aumentando e assim o será, pois os terremotos não deixarão a Sismologia parar.