UnB: 58 ANOS DE HISTÓRIAS

Na UnB desde 1983, Antônio Mendes de Carvalho traz relatos sobre a história da instituição a partir de memórias e vivências pessoais

"A Universidade tem muitos projetos bonitos. Não gosto de ficar dentro do carro, então logo me ofereço para ajudar”, afirma Antônio Mendes de Carvalho, motorista na UnB há quase 40 anos. Foto: Amadeu Caitano de Almeida. Arte: George Lopes/Secom UnB

 

Em 2020, Brasília completa seis décadas e sua Universidade, 58 anos. Ambas compartilham o dia 21 de abril como marco de sua fundação. Para celebrar a data, a Secretaria de Comunicação compartilha relatos de personagens e registros históricos que resgatam o vínculo entre a cidade e a UnB. A ações fazem parte da campanha institucional deste ano: UnB no coração de Brasília.

 

Ao longo das décadas de atividade, a UnB registra como legado a constante produção do conhecimento; a ousadia por seu potencial inovador; contribuições científicas diversas e de relevância para a região do Distrito Federal, para o Brasil e para o mundo; o compromisso com a ética; a responsabilidade social e a promoção de uma sociedade mais cidadã e democrática.

 

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“A melhor escola da vida para mim foi a UnB. A Universidade é uma fonte de saber e toda minha trajetória profissional foi desenvolvida na instituição.” A afirmação de Antônio Mendes de Carvalho, de 58 anos, se explica pelo vínculo profissional como motorista concursado da instituição desde 1983. São quase quatro décadas de vivências que o fazem chamar a Universidade de “minha segunda casa”.

 

Nascido em São Gonçalo do Abaeté, Minas Gerais, Mendes mudou-se para a capital em 1981. “Como vim do interior, o impacto foi muito grande. Eu morava numa fazenda. Meu pai dirigia carro de boi e eu o ajudava. Cheguei aqui de ônibus, sem conhecer nada, e a cidade me impressionou”, relembra.

 

Nos dois primeiros anos na capital, Mendes trabalhou para uma empresa privada responsável pela manutenção do campus Darcy Ribeiro. “Trabalhava com trator de dia e com caminhão de noite. Tinha muita área verde. O campus era quase uma fazenda, não existia a maioria dos prédios que vemos hoje”, conta.

 

Seu primeiro endereço residencial foi no Pedregal, no município Novo Gama (GO), no entorno do Distrito Federal, a 40 km do centro de Brasília.  “Quase não havia pistas duplicadas como hoje. Vinha num ônibus que primeiro percorria o Novo Gama inteiro. O trajeto era difícil. Às vezes cansava mais no transporte do que no trabalho”.

 

Paralelo à jornada profissional, Mendes fez supletivo e concluiu o ensino fundamental. Foi quando prestou concurso para a UnB. “Sou um dos motoristas mais seniores do quadro”, afirma orgulhoso sobre o ofício lhe rendeu vivências e aprendizados que jamais imaginou ter. Percorreu dezenas de estados do país; conheceu a ilha da Trindade – arquipélago brasileiro no oceano Atlântico; e foi ainda mais longe quando conheceu a Antártica. Experiências em que esteve presente para dar suporte à pesquisa científica.

Como motorista da UnB, Mendes percorreu dezenas de estados do país; conheceu a ilha da Trindade – arquipélago brasileiro no oceano Atlântico; e foi ainda mais longe quando conheceu a Antártica. Foto: Amadeu Caitano de Almeida. Arte: George Lopes/Secom UnB

 

As oportunidades surgiram quando ele se tornou motorista de campo. Primeiramente, vinculado ao Departamento de Geologia e, depois, ao Instituto de Ciências Biológicas.

 

“A Universidade tem muitos projetos bonitos. Não gosto de ficar dentro do carro, então logo me ofereço para ajudar”, afirma sobre a personalidade proativa cuja recompensa “é a oportunidade de aprender muita coisa”.

 

A disposição, de fato, lhe rendeu rico aprendizado. “Acompanhei um aluno de doutorado cuja pesquisa era compartilhada com outras universidades. A UnB ficou responsável pela parte norte e centro-oeste do país. Percorremos toda essa região instalando abrigos que funcionam como central sismológica, cujo objetivo é coletar dados sobre abalos sísmicos."

 

"Além de dirigir, eu que construí esses abrigos. A maioria funciona até hoje, sendo importante fonte de dados para o país”, conta sobre a vivência em um dos projetos da Geologia.

 

Na Biologia, o aprendizado não foi menor. “As saídas de campo eram basicamente em Brasília. Conheci nosso Cerrado quase todo e suas reservas ambientais. Aprendi a fazer reconhecimento de plantas, associando o nome vulgar ao nome científico. Trata-se da taxonomia, uma área da Biologia que poucas pessoas gostam. Se não tiver muito contato com as plantas é difícil fazer o reconhecimento”, garante. “Terminei me tornando técnico de campo”, explica sobre o aprendizado que depois o levou à Ilha da Trindade e à Antártica.

 

Trabalhar no ambiente universitário o estimulou a avançar em sua educação formal. “Estava numa fábrica de doutores e meu nível de instrução era até o ensino fundamental. Foi aí que resolvi retomar os estudos”, conta o servidor hoje graduado em Serviço Social. Com a formação, seu olhar já sensível à questão social tornou-se ainda mais atento. “Muitos problemas na cidade, da época em que cheguei, ainda perduram: marginalização, transporte precário, oferta de serviços de saúde limitada. A questão social é algo que não se resolve facilmente, principalmente porque muitos gestores públicos não dão a ênfase necessária”, avalia Mendes.

 

Ele assegura que, como em outras capitais, a vida para a população mais distante do centro é mais sofrida. “Vivo os dois lados da moeda: de dia trabalho no centro e à noite vou pro entorno. A marginalização no entorno é muito maior”. Tais desafios sociais o levaram a uma decisão inusitada. “Me mudei para um apartamento bem pequeno no Plano Piloto para possibilitar que minhas filhas estudem em uma escola pública, cuja qualidade é melhor do que a escola particular que elas estudavam no entorno”, detalha o servidor da UnB.

 

Aos fins de semana, ele e a família retornam à espaçosa chácara que possuem no Novo Gama. “É quando cuido das plantas e posso descansar”. O sacrifício de trocar a casa cercada por natureza pela apertada quitinete tem motivação obstinada. “Educação é algo que ninguém vai tirar das minhas filhas. Uma delas decidiu que vai cursar Medicina. Elas são muito dedicadas e responsáveis, vai valer a pena”, comenta sobre as filhas que cursam o ensino médio e se preparam para prestar vestibular.

 

A esperança projetada no futuro das jovens desvanece quando o assunto é a coisa pública. Em sua opinião, “os bens públicos e o serviço público não estão sendo valorizados como deveriam”. Ele acredita que o servidor público é “mais comprometido com uma administração gerencial, destinada a atender a população”.

 

Mendes faz tudo ao seu alcance para contornar o cenário. “Eu mesmo fiz a manutenção em um dos ônibus que estava sem funcionar. Hoje está pronto para rodar. É um carro muito confortável para atender estudantes e pesquisadores”, compartilha, com orgulho, ao exibir o ônibus que está sob seus cuidados.

 

Desejoso por melhores perspectivas, segue agradecido à Universidade e à cidade na qual tem escrito sua história. “Brasília e a UnB fazem parte da minha vida. É onde fui acolhido e, por isso, tenho tanto a agradecer”.

Em tempos de Covid-19 e isolamento social, a instituição organizou um abraço virtual como forma da comunidade demonstrar o amor à UnB Confira. Arte: Igor Outerial/ Secom UnB

 

COMEMORAÇÕES – As celebrações do aniversário da UnB seguem até o final de abril. Na sexta-feira (24), haverá sessão especial do Conselho Universitário (Consuni), com o lançamento da plataforma on-line UnB Pesquisa, que vai permitir a busca rápida por cientistas da Universidade e suas especialidades.

 

Já no dia 28 de abril, às 11h, haverá a divulgação dos resultados da pesquisa Impacto Econômico da UnB no Distrito Federal e no Brasil, por meio de transmissão ao vivo. Participarão da live a reitora e um dos pesquisadores responsáveis pelo estudo.

 

 

 

Confira a programação de aniversário e participe!
24/4, às 14h30 Sessão solene do Consuni em homenagem ao aniversário da cidade e da UnB
28/4, às 11h Live de lançamento da pesquisa Impacto Econômico da UnB no Distrito Federal e no Brasil (transmissão pelo canal da UnBTV no YouTube

 

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