ENTREVISTA

Docente da UnB, que já atuava no MEC há cerca de dois anos, pretende repensar modelos de aprendizagem e rediscutir a gestão universitária

 

O professor da Universidade de Brasília Mauro Luiz Rabelo assumiu, no início deste ano, o cargo máximo da Secretaria de Educação Superior do Ministério da Educação (Sesu/MEC). Anteriormente, Mauro já atuava na secretaria, como diretor de Desenvolvimento da Rede de Instituições Federais de Ensino Superior.

Mauro Rabelo é o secretário de Educação Superior do Ministério da Educação (Sesu/MEC). Foto: Mariana Costa/Secom UnB

 

A trajetória de Mauro Rabelo, que foi diretor do Centro de Seleção e de Promoção de Eventos (Cespe), decano de Ensino de Graduação da UnB e diretor do Colégio de Pró-reitores de Graduação da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), o credencia para ocupar a posição.

“Me sinto privilegiado, pois, além de participar da vida universitária em sua plenitude, atuei também em outros espaços acadêmicos”, declara. O professor defende a discussão de novas metodologias de ensino e aprendizagem no ensino superior, além de um novo modelo de gestão universitária.

Entre os projetos do MEC mencionados por ele, está um tema sobre o qual a UnB já saiu na frente: a emissão de diplomas digitais. Leia abaixo trechos da conversa:

Secom: Professor, qual é sua avaliação sobre o atual panorama do ensino superior no Brasil?
Mauro Rabelo: A configuração universitária no Brasil reflete a diversidade brasileira, sendo permeada de desafios, dilemas e contradições. Nos últimos anos, observamos avanços no acesso de estudantes ao ensino superior, que nos colocaram na quarta posição mundial entre os países com maior quantidade de matrículas nesse nível de ensino. Passamos de 2,7 milhões de matrículas em 2000 para mais de 8,3 milhões em 2017: um crescimento de mais de 200%. Naturalmente, essa expansão traz muitos desafios: criação de estratégias para melhorar a aprendizagem e garantir a qualidade da formação, reduzir a evasão, dar condições mínimas para a permanência dos estudantes economicamente menos favorecidos, proporcionar a infraestrutura física e de pessoal adequadas, entre outros.

E no caso das universidades públicas federais, como a UnB?
Falando especificamente delas, o país ainda precisa de um quantitativo bastante substancial de recursos para dar conta dos investimentos necessários para terminar as obras de campi espalhados por todo o país. São cerca de 250 obras paralisadas e mais de 300 em execução, que ultrapassam R$ 3 bilhões. É preciso equacionar o orçamento de que dispomos para custear as despesas de funcionamento das instituições públicas, fazer o pagamento das despesas obrigatórias de pessoal e ainda destinar recursos para investimento. Assim, precisamos focar na qualidade da gestão universitária, discutir custos e modelos sustentáveis de financiamento de longo prazo.

Quais serão as prioridades da Sesu para 2019?
Do ponto de vista acadêmico, há uma inquietação sobre o formato tradicional de ensino dominante na educação superior. Hoje, tem-se debatido em diversos países o uso de metodologias ativas para a formação dos estudantes, mediadas, principalmente, pelas novas tecnologias. Pretendo fomentar essa discussão entre os docentes, reunindo especialistas de diversas áreas e trocando experiências. De outro lado, o ministério implantou diversas políticas nos últimos anos que carecem de avaliação, a exemplo do Programa Mais Médicos, do Programa Nacional de Assistência Estudantil, do ProUni [Programa Universidade para Todos], do Fies [de financiamento estudantil], entre outros. Precisamos descobrir em que medida esses programas estão cumprindo seus objetivos para redirecioná-los ou aperfeiçoá-los. O próprio programa de expansão das universidades federais – o Reuni – ainda não foi submetido a uma avaliação pelo MEC. Há metas estabelecidas que estão bem longe de ser cumpridas. Acredito que ainda levaremos no mínimo cinco anos para consolidarmos o que foi planejado no âmbito desse programa. Naturalmente, há muitos outros desafios a serem enfrentados, mas creio que o maior deles seja repensar e discutir o modelo atual de gestão universitária, de modo a possibilitar a adoção de alternativas mais coerentes com a realidade atual do país.

O senhor pode nos detalhar algum dos projetos já em andamento na Sesu?
Uma iniciativa em fase de implantação na secretaria é a disponibilização da portaria que contempla os parâmetros necessários para as instituições começarem a emitir e registrar os diplomas de graduação em formato digital. Isso será uma excelente ferramenta para reduzirmos as fraudes na emissão e registro dos diplomas, principalmente após desenvolvermos uma plataforma eletrônica capaz integrar todos esses documentos e de fazermos o cruzamento com os dados do Censo da Educação Superior.

Os alunos da Matemática (departamento ao qual Mauro é ligado na UnB) podem contar com sua presença em disciplinas neste ano?
Adoro dar aulas, orientar alunos, participar de grupos de pesquisas, escrever, organizar eventos, fazer palestras. Infelizmente, a função de Secretário da Educação Superior e as representações em diversos conselhos não permitem que eu assuma concomitantemente a função de docente. Eu acabaria prejudicando os estudantes por conta das ausências frequentes.

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