PÓS-GRADUAÇÃO

Aula magna abriu segundo semestre letivo de mestrandos e doutorandos com foco nas estratégias para produzir comunicações acadêmicas

Professor emérito Maurício Gomes Pereira fala sobre escrita acadêmica a estudantes da pós-graduação. Foto: Beto Monteiro/Secom UnB

 

“Precisamos não só estudar e pesquisar, mas temos o compromisso de transmitir o conhecimento, até que seja incorporado pela sociedade”, frisou a decana de Pós-Graduação (DPG), Helena Shimizu, durante início da aula magna que recebeu os estudantes dos programas de pós-graduação da UnB para o início do segundo semestre letivo. O encontro aconteceu na tarde dessa segunda-feira (20), em auditório da Faculdade de Ciências da Saúde (FS).

 

Professor emérito da UnB, o doutor em Epidemiologia Maurício Gomes Pereira abordou a estrutura da comunicação científica. Segundo o docente, a prática da escrita melhora a capacidade de leitura crítica, a reflexão e o pensamento sistemático. E parte do que dificulta a redação é a falta de conhecimento da estrutura da escrita acadêmica e de leitura.

 

Como a publicação acadêmica é o melhor caminho para aqueles que têm interesse em ter reconhecimento como pesquisadores, essas dificuldades precisam ser superadas. Na redação, há a expressão de uma ideia ou de um grupo de ideias e, para isso, são necessárias precisão, transmissão de credibilidade e linguagem clara e concisa. “Ajuda editores e leitores”, destacou Maurício. 

 

EVOLUÇÃO — No início das sociedades científicas, os conhecimentos eram repassados de forma oral, via livros ou por correspondências pessoais. Grande mudança ocorreu a partir de 1665, quando surgiu a primeira revista científica na França: Journal des Sçavans. O século seguinte assistiu ao surgimento de vários periódicos. “Havia um gosto particular pelo raro”, pontuou o professor Maurício.

 

Já no século XVIII, surgem os comitês editoriais dos periódicos na seleção das cartas científicas, o sistema de revisão por pares e a limitação de um relato de um mesmo autor por edição do periódico. A metodologia nas publicações desenvolve-se exponencialmente no século XIX e, no seguinte, o que se observa é o aparecimento de citação de referência. “O foco passou para a interpretação dos resultados”, comentou.

 

A partir desse período, as pesquisas passaram a estudar algo específico e a buscar identificar se poderia ser generalizado. De acordo com o docente, surgiram também diretrizes para redação das comunicações científicas. Dos anos 1980 em diante, o que se observou foi a prevalência de estrutura composta por introdução, método, resultados e discussão (IMRD), em parte influenciado pelas publicações da Física.

  

MÉTODO — Segundo o professor, o método IMRD atende à leitura rápida e seletiva de avaliadores e leitores, de modo que podem identificar rapidamente se o artigo atende às suas demandas. “Utilizando o método, o terror da página em branco fica para trás. O que o pesquisador precisa fazer é apenas seguir o formato e preencher as lacunas”, ensina.

 

Segundo as instruções do professor emérito, na introdução, deve-se explicitar o que é o estudo e porque ele foi iniciado. “Já a melhor maneira de expor um objetivo é em forma de perguntas; assim, a conclusão será a resposta a essas questões”, sugere.

 

No método, deve-se descrever como foi feito o estudo e, no resultado, o pesquisador elabora sobre os achados do estudo. “É onde aparece a contribuição do autor para a investigação e também onde se desenvolve a discussão sobre o que os dados significam”, afirma.

 

Desta forma, a questão de pesquisa é a base de tudo e o que vem depois é consequência. Para garantir coerência, o autor deve-se perguntar se a conclusão está suficientemente apoiada nos resultados apresentados, em sólida interpretação e nos objetivos propostos. Deve-se ainda indagar quais fatos e argumentos sustentam a conclusão.

 

“Você vai procurar coerência para o artigo, não a perfeição, porque isso você não vai alcançar”, alerta. Ademais, o professor destaca que linguagem clara, concisa e adequada são essenciais. “A legibilidade é responsabilidade do autor”, reforça. E por fim, dá o último conselho: “revisem várias vezes”.

Decana Helena Shimizu ao lado do professor Maurício Pereira e da vice-diretora da FS Karin Eleonora Sávio. Foto: Beto Monteiro/Secom UnB

 

CINQUENTENÁRIO — A aula magna também marcou a homenagem da Faculdade de Ciências da Saúde aos 50 anos de trabalho do professor Maurício Pereira na Universidade. O docente leciona na UnB desde 1968 e, em 2012, recebeu o título de Professor Emérito. Também é membro titular da Academia Nacional de Medicina, no Rio de Janeiro, e autor de livros-referência, como Epidemiologia: teoria e prática (bibliografia frequente em cursos de graduação de Medicina) e Artigos científicos: como redigir, publicar e avaliar. O último, publicado pela primeira vez em 2012, é voltado a todos os campos de pesquisa.

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