SAÚDE

Pacientes que esperam por novo órgão ganham espaço para tirar dúvidas e trocar experiências

 

A Unidade de Transplante do Hospital Universitário de Brasília (HUB) deu início, este mês, ao Grupo de Preparação para o Transplante Renal. A instituição já realizava palestras, uma vez por mês, para esses pacientes. A ideia agora é oferecer um espaço mais frequente para tirar dúvidas sobre a doença, a cirurgia e os períodos pré e pós-transplante.

 

“A nossa preocupação é preparar bem o paciente para a cirurgia, que é um tratamento complexo, física e mentalmente. O grupo é um local de acolhimento, esclarecimento e troca de experiências”, explica Rômulo Maroccolo, chefe da Unidade de Transplante do hospital.

 

Cada grupo reúne dez pacientes, que podem ir acompanhados de familiares, em quatro encontros, às quartas-feiras à tarde. A programação inclui conversas com equipe multiprofissional, composta de psicóloga, enfermeira, assistente social, terapeuta ocupacional, fisioterapeuta e médico. “Muitos pacientes têm medo de fazer o transplante e não entendem que se trata de um tratamento. Alguns têm informações erradas e muitos têm pouquíssima informação. O grupo é uma forma afetiva de tornar efetiva a informação”, afirma a psicóloga Pollyana Santos, idealizadora do projeto.

 

Durante os encontros, além de informações sobre todas as etapas que envolvem o transplante, os pacientes e familiares assistem ao depoimento de um transplantado e, no último dia, participam da Conversa com o Doutor, em que podem tirar todas as dúvidas com um médico residente do setor.

 

DEPOIMENTO - José Geraldo de Paula tem 44 anos e, em outubro do ano passado, descobriu que teria que passar por um transplante de rim. Desde então, faz hemodiálise três vezes por semana. “No começo, quando falaram que eu tinha que fazer hemodiálise, fiquei assustado. Depois, falaram que eu tinha que fazer o transplante, não tinha mais recuperação. Eu fiquei desanimado, mas depois coloquei a cabeça no lugar”, conta Geraldo. Ele garante que encontrou no grupo um ponto de apoio. “É muito bom para todo mundo se conhecer e um dar força para o outro. Quem é mais calmo tentar acalmar os que estão chegando agora. Quando a gente vem para esse grupo, é para saber o que nos aguarda, conhecer outros casos e tirar dúvidas”, completa.

 

A dona de casa Marlúcia Maciel, de 48 anos, também já comparece às sessões de hemodiálise e participa do grupo com a filha e o marido. Ela deve concluir, em julho, os exames necessários para entrar na lista de espera por transplante. “Minha expectativa é que eu entre na lista logo. Vou conseguir o transplante e ficar boa, se Deus quiser”, afirma.

 

Oscar Peixoto precisa trocar o dia de trabalho como agente de portaria para acompanhar a esposa, mas não deixa de comparecer aos encontros. “Eu achei muito importante porque a gente não tem informação de nada, a gente nunca passou por essa situação. Cada reunião, cada palestra que tem a gente aprende mais a conviver com a doença”, explica.

 

A enfermeira do serviço, Cláudia Bezerra, recebe os pacientes que chegam para fazer o transplante. “O paciente chegava aqui sem saber o que ia acontecer com ele. Agora, a gente explica o passo a passo. Quando ele internar para transplantar, já vai saber o que vai acontecer, vai estar mais preparado”, garante Cláudia.

 

HISTÓRICO - O transplante de rim é necessário quando o paciente apresenta insuficiência renal crônica. Desde 2006, o HUB já realizou 218 transplantes desse tipo. Em 2014, foram 36 e este ano já foram feitos dez procedimentos. A lista de pacientes que aguardam por um rim, no HUB, tem hoje 71 pessoas. Não existe uma ordem para a cirurgia. Os pacientes são chamados de acordo com a compatibilidade com o doador.

 

“Poder ajudar, acolher o paciente nesse momento de angústia, mostrar que é uma doença que tem tratamento, é muito gratificante. Acho que qualquer profissional da saúde que tem o olhar do acolhimento pode ajudar o paciente de uma maneira que vai fazer com que ele passe por esse período de forma mais leve. É muito bom fazer parte dessa equipe, que pode proporcionar uma esperança para o paciente”, afirma a psicóloga Pollyana.

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