EFEITOS DA CRISE SANITÁRIA

Estudo pretende avaliar de que forma a pandemia afetou as rotinas da categoria e se as medidas de biossegurança têm reduzido os riscos de contágio

Profissionais de odontologia responderão questionários sobre biossegurança, práticas odontológicas e adequações nos atendimentos durante a pandemia. Foto: Lúcio Bernardo Jr./Agência Brasília

 

Devido à natureza de seu trabalho, os profissionais de odontologia estão entre os mais vulneráveis quanto à chance de contágio por covid-19. São trabalhadores que lidam diariamente com risco de se expor às partículas do Sars-CoV2 no contato com pacientes. Diante disso, uma pesquisa do Departamento de Odontologia, ligado à Faculdade de Ciências da Saúde (FS/UnB), pretende entender como o novo coronavírus atinge a classe no Distrito Federal e quais medidas os profissionais têm adotado para se protegerem.

 

Intitulado Prevalência de Contaminação por SARS-CoV-2 entre Cirurgiões Dentistas e Níveis de Distanciamento Social de Profissionais de Odontologia do Distrito Federal, o projeto foi contemplado com financiamento em edital do Comitê de Pesquisa, Inovação e Extensão de combate à covid-19 (Copei), Decanato de Pesquisa e Inovação (DPI) e Decanato de Extensão (DEX) para apoio a iniciativas de enfrentamento à covid-19 desenvolvidas pela UnB.

 

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"O projeto quer saber como os profissionais da odontologia, que incluem cirurgiões dentistas, técnicos e auxiliares de saúde dental, além de técnicos e auxiliares de prótese dentária, estão fazendo o distanciamento social. Também queremos conhecer quais são as medidas e condições de biossegurança desses profissionais que estão em atividade: queremos saber se eles estão usando equipamentos de proteção individual (EPIs) e quais são, se eles tiveram contato com pessoas, pacientes ou alguém da família que teve covid-19", explica a coordenadora do projeto e professora da FS, Erica Negrini Lia.

 

Além disso, a iniciativa prevê a testagem rápida desses profissionais com o intuito de detectar a presença de anticorpos contra o Sars-CoV2. "É uma profissão de altíssimo risco para infecção por covid-19. Durante a manipulação da boca e realização de procedimentos odontológicos, são gerados aerossóis – gotículas que ficam em suspensão no ar durante muitas horas depois que o tratamento é finalizado. Isso gera um risco ocupacional grande. Obviamente, existe também um risco para o paciente, mas é maior para o profissional, sem dúvida", alega a docente da FS.

Coordenadora do projeto, a professora Erica Negrini Lia alerta que profissionais da categoria estão cotidianamente expostos aos riscos de contrair a covid-19. Foto: Arquivo pessoal

 

Um dos objetivos da pesquisa é descobrir se as medidas de biossegurança adotadas atualmente por profissionais de odontologia são suficientes para impedir a transmissão do novo coronavírus.

 

"Só temos como saber isso se verificarmos qual é a prevalência da soroconversão, ou seja, vamos saber qual a porcentagem de profissionais, no caso de dentistas, ficou positivo para covid-19, comparado com a porcentagem de pessoas na população que também testou positivo", detalha Erica Negrini.

 

Os pesquisadores acreditam que, por trabalharem cotidianamente em um ambiente que gera risco ocupacional para aquisição de doenças infectocontagiosas – não apenas a covid-19 –, esses profissionais estejam atentos e bem preparados para lidar com a pandemia.

 

"São profissionais que seguem as normas de biossegurança, mas não sabemos de verdade se existe algum estudo que tenha comparado qual a taxa de soroconversão em dentistas e profissionais de odontologia com a taxa da população geral. Então, acreditamos que talvez até na população em geral a taxa seja maior, porque as pessoas se descuidam mais", analisa a docente. 

 

"Quando o profissional da saúde está dentro de um ambiente como um consultório ou um hospital, ele usa com muito mais rigor o equipamento de proteção individual, como máscara, gorro, óculos de proteção, face shield, e essas medidas de fato têm um impacto muito positivo", completa. Além das medidas de proteção, serão avaliadas as adequações na rotina de atendimentos e preparação dos ambientes para receber os pacientes.

 

APLICAÇÃO – Além de Erica, integram a equipe mais dois professores do Departamento de Odontologia da UnB: Adriano de Almeida de Lima, que atua na área de saúde bucal coletiva, e Cristine Miron Stefani, docente de periodontia. Também estão envolvidas na pesquisa a aluna do curso de Odontologia Stefany Joaquina Sousa Farias, que atua na iniciação científica, e a doutoranda do programa de pós-graduação da mesma área Jaiane Augusta Ribeiro Medeiros.

 

O estudo teve a colaboração do Conselho Regional de Odontologia do Distrito Federal (CRO-DF) e do Serviço Social do Comércio (Sesc-DF), que doou 300 kits para exame rápido de covid-19 ao projeto. Para iniciar a pesquisa, foi realizada uma lista com todos os profissionais da área inscritos no Conselho. Eles foram escolhidos aleatoriamente por Região Administrativa (RA).

 

Em seguida, foi disparado um questionário com várias perguntas sobre biossegurança, práticas odontológicas e se houve modificações na rotina de trabalho ou na recepção de pacientes no consultório, por exemplo. "No caso dos dentistas, nós vamos realizar os testes rápidos, então à medida que os profissionais vão respondendo o questionário, são marcados os testes para detecção de anticorpos", conta Erica.

 

O projeto está em uma fase inicial e já foi aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Faculdade de Ciências da Saúde (FS). Com os recursos que serão repassados do edital do Copei, DPI e DEX, serão adquiridos EPIs e outros testes para complementar aqueles já doados pelo Sesc-DF. Para ampliar a divulgação da pesquisa entre a categoria, a equipe do projeto conta com apoio do CRO-DF.

Após testagem dos profissionais, dados dos já contaminados ajudarão a observar se adoção de EPIs tem sido efetiva para barrar a transmissão do Sars-CoV2. Foto: Pexel

 

A coordenadora da iniciativa ressalta que, até o momento, não há ciência de nenhum estudo desta natureza em andamento no Brasil. Érica acredita que a investigação auxiliará a avaliar se os procedimentos adotados pelos profissionais da área têm sido eficazes na proteção contra a covid-19.

 

"Nosso risco é extremamente alto, junto com médicos que trabalham diretamente com pacientes infectados. Hoje, também temos dentistas que atendem em UTIs para covid-19. É uma realidade inclusive do Hospital Universitário de Brasília (HUB), onde há dentistas que já atendiam em UTIs e que, agora, atendem pacientes com covid-19", alerta a professora Erica Negrini.

 

"O profissional da odontologia está completamente exposto, e nós não sabemos exatamente se essas barreiras de biossegurança estão sendo suficientes. Há também todas essas mudanças na prática odontológica, desde o preparo do ambiente, consultório, sistema de marcação de pacientes, mas não sabemos se isso está sendo o suficiente para prevenir a transmissão do vírus", pondera.

 

Acompanhe informações sobre o projeto no perfil no Instagram @odontocoviddf.

 

SAIBA COMO AJUDAR – A equipe do projeto tem aceitado a doação de testes rápidos para covid-19 e de equipamentos de proteção individual como avental, máscara N95, face shield e luvas. "Tudo isso custa caro, o preço desse material aumentou demais desde o início da pandemia, o que tem dificultado a compra, e algumas vezes não encontramos para comprar", explica a professora Erica Negrini.

 

Outra forma de contribuir é com o deslocamento dos integrantes da pesquisa aos locais de trabalho dos profissionais de odontologia para a realização dos testes rápidos. Profissionais da área da saúde com treinamento em biossegurança também podem colaborar doando seu tempo de trabalho para auxiliar na testagem.

 

O Copei, em convênio com a Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Finatec), também criou um fundo de doações para apoiar projetos de combate à covid-19 como esse. Pessoas e entidades da sociedade civil podem financiar uma das iniciativas do portfólio da instituição ou agregar recursos ao fundo geral acessando o link: https://www.finatec.org.br/doacaoprojetos/form.

 

As doações são feitas por meio de boleto, depósito bancário, cartão de crédito ou PayPal. O comitê gestor do fundo irá direcionar as contribuições aos projetos, seguindo os critérios de classificação nas chamadas prospectivas de iniciativas contra a covid-19 da Universidade. Para colaborar com serviços, materiais ou equipamentos, é preciso, primeiro, articular a ação junto ao Decanato de Pesquisa e Inovação (DPI), pelo e-mail Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..

 

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