TECNOLOGIA

Estudo sobre veículo aéreo não tripulado (VANT) é fruto de intercâmbio entre alunos e professores da UnB e da Universidade de Hong Kong

Foto: Paulo Castro/UnB Agência

 

Dois prêmios envolvendo estudantes de graduação consagraram trabalhos desenvolvidos dentro do Departamento de Engenharia Elétrica da Faculdade de Tecnologia da Universidade de Brasília. O primeiro estudo, abordando veículos aéreos não tripulados (VANTs), recebeu o prêmio de melhor artigo no IV International Congress on Ultra Modern Telecommunications (ICUMT), na Rússia. O segundo figura na área de variabilidade de frequência cardíaca e recebeu o primeiro lugar no Prêmio de Iniciação Científica do XXIII Congresso Brasileiro de Engenharia Biomédica. Leia aqui reportagem completa.

 

O prêmio do congresso russo foi concedido no início de outubro. Escrito diretamente na língua inglesa, o artigo Improved Landing Radio Altimeter for Unmanned Aerial Vehicles based on an Antenna Array foi assinado por seis pessoas - Ronaldo Ferreira, Marco Marinho, Arthur Amaral (graduandos de FT), Kefei Liu (doutorando na City University of Hong Kong), João Paulo da Costa e Hing Cheung (orientadores da FT e de Hong Kong, respectivamente). O trabalho do grupo é parte de um projeto da FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos) junto à UnB, Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e a empresa XMOBOTS.

 

Com a criação do Laboratório de Automação e Robótica (LARA) no Departamento de Engenharia Elétrica, cuja direção se interessava pela criação de um mini-VANT a partir de estudos em robótica, telecomunicações e rede, área de especialidade do professor João Paulo da Costa. “No trabalho, procuramos explorar as possibilidades de realizar mapeamento de altura e margeamento de chão utilizando uma rede, uma matriz de antenas”, afirma Ronaldo Ferreira.

 

A inovação do estudo está em criar um sistema que consegue antever essas variações com mais precisão, através de um radioaltímetro baseado em múltiplas antenas. Para isso, foi preciso ir fundo na parca literatura sobre o tema, incrementada agora pelo próprio estudo do grupo. No LARA, ainda não há uma aplicação específica sobre o mini-VANT, mas a intenção é que seja usado em problemas de linha de transmissão. O VANT, por prescindir de tripulação, costuma ser utilizado em atividades que, de outra forma, envolveriam risco humano. Situações das mais variadas, desde investidas militares a combate de queimadas florestais e estudo de vulcões. Além disso, o veículo tem custo muito inferior em relação a outras formas de locomoção aérea.

 

Atualmente, os radioaltímetros presentes nesse tipo de veículo só produzem informação da distância para o solo a partir de idas e vindas de sinais do VANT ao chão. Estes solos, contudo, não têm a regularidade de que o sistema precisa, explica o professor João Paulo Costa: “Nós sabemos que o solo pode ter uma série de problemas, que podem provocar sérios problemas de danificação do veículo no momento de aterrissagem, por exemplo”.

 

FENÔMENO - A maior parte do trabalho premiado foi idealizado e realizado por Ronaldo Sebastião Ferreira Junior, 25 anos, que ainda está em processo de término da graduação. “Considero o Ronaldo um fenômeno. Nós nos conhecemos através de uma disciplina que eu ministrava e, no semestre seguinte, ele já estava fazendo a pesquisa, orientado por mim, como aluno do PIBIC (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica). Posso dizer, sem dúvida, que 70% do trabalho foi feito pelo Ronaldo”, afirma o professor João Paulo da Costa.

 

“O orientador é quem coordena tudo e, não fosse por ele, o projeto não teria andado. Além de ensinar, o professor tem o papel fundamental de empolgar o aluno, motivá-lo em um processo difícil. Os professores da FT costumam estar presentes e atuantes. Sem o João Paulo, por exemplo, o sucesso do meu trabalho não teria sido o mesmo”, retribui Ronaldo Ferreira.

 

Logo no primeiro artigo publicado, após estudos de mais de um ano, o aluno obteve um reconhecimento do ICUMT, conferência promovida pelo IEEE (Institute of Electrical and Electronics Engineers), maior associação de engenheiros do mundo. Cerca de 200 trabalhos foram inscritos.

 

INTERCÂMBIO - “Eu tinha pesquisas científicas disponibilizadas na internet e, espontaneamente, pesquisadores de Hong Kong entraram em contato comigo”, afirma João Paulo Costa. A partir desse primeiro contato virtual, que perdurou por quatro meses, brasileiros e chineses selaram duas parcerias: Kefei Liu veio ao Brasil, através de bolsa fornecida por sua faculdade, para mostrar sua experiência na área, enquanto João Paulo Costa se tornou seu co-orientador.

 

Em um semestre de permanência em Brasília, Kefei Liu produziu três em conferências (um deles recebendo prêmio de best paper) e quatro artigos para jornais. Outros cinco artigos, em diferentes linhas de pesquisa, ainda estão nos planos. “É uma experiência fantástica trabalhar com alguém de Hong Kong. Não é questão de classificar como melhor ou pior que o Brasil, mas perceber que há outras formas de trabalho, outro ritmo. Keife trabalhou 14 horas por dia, virou noites procurando soluções. Esse intercâmbio nos vale não só acadêmica, mas culturalmente”, conta João Paulo Costa. “Qualquer experiência de intercâmbio é válida. Foi muito bom manter contato, uma verdadeira uma troca de experiências”.

 

João Paulo da Costa atesta ainda a dificuldade de manter trabalhos intercontinentais como esse na Universidade de Brasília. Entre os maiores problemas, ele enumera a escassez dos chamados apartamentos de trânsito, domicílios próximos aos campi e prontos para receber pesquisadores que chegam à universidade. Além disso, há as dificuldades da língua portuguesa, cujo ensino intensivo para estrangeiros é precário, e também da língua inglesa.

 

“Os estudos mais avançados estão em inglês e, nas universidades de ponta pelo mundo, as aulas de pós-graduação são ministradas nesse idioma”, afirma o docente, que hoje é o único da Faculdade de Tecnologia que promove disciplinas inteiramente no idioma. “Isso melhora as duas pontas do processo: o aluno estrangeiro, que quer vir ao Brasil, mas tem a barreira da língua a ser quebrada; e o aluno brasileiro, que precisa saber inglês para possíveis empreitadas pelo exterior ou mesmo apenas para ler um texto que seja fundamental na sua formação e não esteja disponível em português”, complementa.

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