CIÊNCIA

O jovem José Buzar, de 11 anos, pediu à professora de sua escola para participar do evento na UnB. Ele acredita que Stoddart pode inspirá-lo para o futuro

 

Stoddart e José se conheceram pouco antes da apresentação. “O jeito que eles trabalharam traz inspiração”, comenta o garoto. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

Aos 11 anos de idade, José Buzar gosta muito de história, geografia, desenho e música. Filho de professores, ele poderia ser como qualquer garoto do 5º ano do ensino fundamental. O que o diferencia dos demais? “Meu QI é de 147”, diz, com modéstia não ensaiada. Acima de 130, o Quociente de Inteligência aponta para superdotação. Química é uma das áreas de interesse deste jovem, que pediu à sua professora que o levasse para assistir à palestra Máquinas através do tempo, de James Fraser Stoddart, ganhador do prêmio Nobel de Química em 2016 que esteve na UnB nesta terça-feira (9).

 

José reconhece que o acesso a um vencedor de Nobel é muito difícil. “Não é uma pessoa que se pode abordar, mesmo sabendo que ela tem muito conhecimento na área”, avalia. Por isso, na oportunidade que teve de interagir com o laureado, o garoto pensou em ajudar os outros por meio da resposta que obteria e quis saber de Stoddart como seu premiado trabalho poderia ajudar as futuras gerações e a medicina.

 

Estudante de um colégio da capital, no contraturno José participa do Programa de Incentivo a Talentos (PIT) de uma instituição especializada em jovens com altas habilidades. “Ele tem muitos interesses e buscamos desenvolver o máximo de habilidades possíveis com ele”, conta a coordenadora do PIT, Socorro Santos. “Desde que ele era pequeno, observamos que havia algo diferente. O diagnóstico de altas habilidades veio após seis sessões com uma psicóloga”, lembra o pai, Francisco Buzar.

 

Até então, José relatava problemas de socialização e bullying no antigo colégio. O pai e a mãe sentiam falta de afeto na educação do menino. “Ele queria falar de buracos negros, filosofia, guerras históricas e nenhum colega sabia acompanhar. Os educadores também não apontavam a diferença que víamos”, lembram. O interesse específico pela química veio através do contato com um amigo do pai, que leciona a matéria. Hoje, mesmo planejando estudar relações internacionais, José mantém-se atento à área. “Pode me ajudar no futuro”, considera.

 

Muito atento à palestra, o garoto interessado em assunto de gente grande teve direito a lugar especial na plateia, bem próximo ao palco, juntamente com a família e pedagogas da escola. Quando chegou sua vez de perguntar, já tinha tudo na ponta da língua: “Você acha que essas máquinas nanomoleculares podem acabar com doenças como câncer ou malária?”

Observado pela plateia, José fez cuidadosamente a pergunta que já havia sido formulada. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

A pergunta impressionou o palestrante. “Bem formulada, pensada e recortada. Estou maravilhado!”, disse mais tarde, após o evento. “Eu não ousaria dizer que pode trazer solução para doenças degenerativas como câncer ou Alzheimer, porque são desafios enormes que a humanidade enfrenta, da mesma forma que há 70 ou 80 anos as pessoas morriam por doenças que poderiam ser curadas, antes da difusão da penicilina”, introduziu o cientista, na resposta ao garoto.

 

Em seguida, Stoddart contou uma experiência familiar que teve com o tema. “Perdi minha esposa para o câncer de mama após uma luta de 12 anos e o tratamento ainda é quase medieval. Precisamos avançar além desse ponto. Tenho certeza de que as pessoas aqui certamente estão buscando novas maneiras e caminhos para lidar com essas doenças. Não sei se as máquinas moleculares vão resolver o problema, mas podem ser parte da solução”, concluiu.

 

O laureado também abordou o quadro atual da pesquisa científica no Brasil. De acordo com a avaliação do Nobel, se José Buzar e outros tantos jovens com potencial quiserem ter mais sucesso ao desenvolverem ciência no país, algumas medidas devem ser tomadas desde já. “Vocês realmente precisam de um governo que os incentive, no mesmo sentido da China”, comparou. “Não é preciso reinventar a roda. O governo da China investe dinheiro e tecnologia há muitos anos para que seus estudantes viajem a países como Estados Unidos e alguns da Europa e está dando muito certo.”

 

Para Stoddart, o Brasil tem capacidade para evoluir como o país oriental, que se firma cada vez mais como potência mundial. “O periódico alemão Angewandte Chemie, um dos maiores do mundo em química, revelou há alguns anos que estava recebendo muito mais artigos chineses do que dos Estados Unidos. A mudança está acontecendo e o Brasil também pode se dar bem se apenas seguir esses pequenos passos que os outros países do BRICS já estão dando e que se mostram bem-sucedidos”, apontou.

 

Ainda de acordo com o laureado, essas mudanças devem ser chanceladas pelas autoridades máximas do país. “Ouvi dizer que o presidente Xi Jinping [da China] falou por 70 minutos com o parlamento sobre ciência e engenharia. Nenhum líder ocidental faz isso e duvido que no Brasil haja um político que o faria.”

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