DIVERSIDADE

Respeito à diversidade está na pauta da comunidade acadêmica

Foto: Beatriz Ferraz/Secom UnB

 

A Universidade de Brasília promove, de 20 à 23 de junho, a I Semana da Diversidade LGBT, organizada pela Comissão de Combate à LGBTfobia e pela Diretoria de Diversidade. Nesse espírito de pluralismo, o Centro Acadêmico de Sociologia (CASO), em parceria com o coletivo Manas Drags realizou no início do mês a II Montagem Coletiva e Oficina de Maquiagem para Drag Queen de Brasília.

 

Além de compartilhar técnicas, o evento tinha como objetivo dar visibilidade à causa e combater o preconceito. Cerca de 40 pessoas participaram da montagem. A circulação de pessoas era livre e quem tinha mais para ensinar adotava alguém que ainda tinha muito para aprender. A proposta era que cada um contribuísse com o que pudesse de material e expertise.

 

O passo a passo da maquiagem foi ensinado em pequenos grupos que se formaram espontaneamente. Primeiro, o não tão simples truque básico: esconder as sobrancelhas. Munidas de cola em bastão, as futuras drags compartilhavam os pentes com os quais espalham a cola pela sobrancelha. Em seguida: base, corretivos, contornos, sombras e o que mais a criatividade permitisse. Além, é claro, de um nome poderoso.


TROCA DE EXPERIÊNCIA - Grisalho e sorridente, o servidor público Enilson diz que não tem aptidão para maquiagem. “Sou mais talentoso para consertos e reparos. Muitas amigas me consideram marido de aluguel”, revela bem humorado.

 Senhor grisalho olha fotos
Enilson participou do evento e compartilhou suas histórias de drag.  Foto: Beatriz Ferraz/Secom UnB

 

Ele participou da oficina para pegar dicas e compartilhar experiências. “Faço [drag] há sete anos, mas só em ocasiões especiais. Costumo pagar alguém para fazer minha maquiagem e, como já deu errado antes, quero aprender algo”, conta. Enilson, ou Soninha Tarja Preta quando montado, mostra seu álbum de fotos para uma colega e conta “Calço 43 e tenho dificuldade para comprar sapatos no Brasil, mas nunca repeti um”.

 

Houve também quem ensinasse muito e aprendesse ainda assim. Cleuber Amaro ou Vanda Lavandala, estudante do mestrado em Filosofia, conta que, apesar de ter compartilhado algumas técnicas, a discussão propiciou novos aprendizados. E ele já saiu pronto para aplicá-los.


Único Drag King do evento, ele explica ainda que a drag é uma projeção daquilo que a pessoa gostaria de ser. “É ganhar liberdade para o novo personagem e se apropriar do espaço”, elucida.

 

CONSCIENTIZAR É PRECISO - Para Cleuber, o ambiente estimulou a reflexão sobre o tema por pessoas que não o próprio público gay. “O espaço da militância ainda é muito monopolizado pelo público masculino. Esse questionamento foi aberto a todos e trouxe o debate para a possibilidade. Como você se transformaria se pudesse ser outro rosto, outra cara, outra personalidade?”.

 

Carina de Cássia, entusiasta da arte drag, conta que o reality show Ru Paul’s Drag Race e a drag brasileira Pabllo Vittar chamaram sua atenção para a atividade. Ela foi para a oficina com o plano de vestir-se como a drag Adore Delano, participante da sexta temporada do reality show. “Adoro o estilo dela e como ela sabe viver sem preconceitos”, explica.

 

O reality show tem contribuído para a difusão da cultura drag e está listado como a 31a série mais popular do site Internet Movie Database (IMDb), que é uma base de dados online sobre filmes, séries e outros.

 

 

Representante do coletivo Manas Drags, Caio Handel explica que uma das ideias da oficina era questionar a dicotomia da representação de gêneros. “A Drag, muitas vezes simboliza uma figura de resistência e deboche às estruturas e normas de gênero e sexualidade, que dizem o que as pessoas devem ser baseadas no seu 'sexo' biológico. Montar-se, para muitos, é uma forma de arte, empoderamento e resistência"., afirma.

 

A mãe de Caio não aceitava que o filho se vestisse com roupas de mulher. O processo de enxergá-lo como drag foi mais difícil do que como gay. “Para mim, fazer isso era algo natural”, conta. Ela não queria vê-lo, e ele não se montava na frente dela. Hoje Caio pede a opinião da mãe quando escolhe o figurino. “Às vezes ela até me financia”, revela rindo.

 


O grupo Manas Drags pretende, ainda, articular mais ações para fortalecer o movimento drag em Brasília e trazer novos horizontes de ação e visibilidade para a causa. A ideia é levar o debate para a sociedade e desmistificar o que é ser drag, além de buscar conscientizar as pessoas que se montam e combater discursos heteronormativos, binaristas, racistas e misóginos.

 

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Fotos: Beatriz Ferraz/Secom UnB