Alunos negros da Universidade de Brasília são acolhidos em evento que reuniu testemunhos, declamações e apresentações musicais

 

Marcelo Café apresentou músicas ligadas à temática do evento e não conseguiu conter as lágrimas. Foto: Audrey Luiza/Secom UnB

 

O Centro de Convivência Negra (CCN) organizou, na tarde desta quinta-feira (28), uma recepção para os alunos negros da Universidade. O espaço, montado em frente à sede do CCN, lotou para apreciar testemunhos, declamações e shows musicais, a exemplo da apresentação de Marcelo Café, cantor, compositor e estudante de Letras – Francês. “Me emociona ver tantos rostos pretos. Hoje completo 46 anos e vejo o quanto temos força e voz juntos”, declarou.

 

Ileno Izídio, decano de Assuntos Comunitários, saudou o público em nome da reitora Márcia Abrahão e dividiu um pouco de sua história para mostrar o porquê de a Universidade de Brasília ser tão importante para ele. “Entrei aqui com 17 anos, morei na Casa do Estudante, e atuo em defesa da Universidade. Vamos resgatar os coletivos e precisamos estar juntos para enfrentar as adversidades”, declarou.

 

Ao longo da tarde, estudantes, servidores e a comunidade externa tiveram a chance de interagir com a programação, uma vez que havia momentos em que o espaço era aberto ao público. Alfonso Albuquerque, da República Democrática do Congo, cantou canções de sua infância e dividiu com os presentes um pouco de sua opinião sobre a importância do continente africano. “A África não está nas bibliotecas, apesar de tudo o que representa. Queremos mudar isso”, disse.

 

As amigas Marina e Juliana foram juntas e aprovaram a iniciativa. Foto: Audrey Luiza/Secom UnB

 

Caloura de Ciências Biológicas, Juliana Remédios soube da recepção por uma amiga. Ela acha que esses momentos de integração são importantes porque viveu sempre rodeada de gente branca. “Eles não sabem como é entrar em um lugar e não ver ninguém com uma pele como a sua”, afirma.

 

Marina Moreira, a amiga que levou Juliana para o evento, conta que busca sempre trazer os colegas negros para espaços de acolhimento. Formada em Ciências Biológicas e hoje estudante de Medicina, ela considera que o ambiente universitário colabora para a reprodução dos padrões de branquitude. “Na Medicina, é raríssimo ver um grupo com vários negros. Muitas vezes, não sentimos que pertencemos àquele espaço.”

 

A advogada Nádia Nádila era uma das palestrantes da recepção e deu o testemunho de suas experiências como negra. Ao longo de sua fala, ela demonstrou o empoderamento que teve ao assumir sua identidade. “Provavelmente já passamos todos pela experiência de sermos o único ou um dos únicos alunos negros da sala. Percebo que, quanto mais galgamos espaços de poder, menos pessoas pretas vemos”, afirma.

 

O Coro Multiétnico da UnB, que é um curso de extensão de canto e português oral, também se apresentou. Com o objetivo de propor a integração entre brasileiros e estrangeiros, ele ajuda os estudantes com outras línguas maternas a compreenderem a pronúncia do português. Ligado à Casa da Cultura da América Latina (CAL/DEX), o curso oferece créditos de extensão aos matriculados.

 

Nádia Nádila dividiu sua história com um público atento. "É a minha vivência, mas sei que muitos vão se identificar ou reconhecer as situações que acontecem com todos nós." Foto: Audrey Luiza/Secom UnB

 

Durante a afro-recepção, houve, ainda, palestra de Cristiane Sobral, atriz e escritora, além de abertura da exposição 310 Olhares, organizada por alunos do Centro Educacional 310 de Santa Maria, e um lanche coletivo.

 

“Queremos mostrar que esse é um espaço de acolhimento não só para quem chega, mas para quem já está aqui e também para a comunidade toda”, afirmou Manoel Neres, da Coordenação da Questão Negra (Coquen). O CCN fica entre o posto de gasolina e a Maloca, no campus Darcy Ribeiro.

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