INTERDISCIPLINARIDADE

Promovido pelo Núcleo de Estudos Limnológicos (NEL), evento reúne percepções de diferentes áreas do conhecimento sobre o tema

 

Na palestra de abertura, Rafael Mello, superintendente na Adasa, abordou causas e gestão da crise de abastecimento ocorrida em 2016 e 2017 no Distrito Federal. Foto: Raquel Aviani/Secom UnB

 

Limnologia. De origem grega, a palavra complexa à primeira vista significa estudo dos lagos. Em perspectiva mais ampla, pode se referir a uma combinação de saberes científicos em torno de um dos bens mais preciosos da humanidade: a água. Além de lagos, são fonte de pesquisas dessa especialidade as chamadas águas interiores – lagoas, rios, reservatórios, riachos, represas, açudes e nascentes.

 

Exploradas nas mais diversas dimensões – biológica, ecológica, química, física e geológica –, a água também tem vertentes na antropologia, na educação e na literatura. “A água não é somente técnica – química e biologia –, é também parte do ritmo da própria vida e do pensamento humano. Há também um aspecto artístico nisso. A água é um recurso de comunicação, pois refletimos sobre ela. Quando falamos em refletir, estamos reflexionando, falando do nosso reflexo. Nosso primeiro espelho, consciência do que somos, é a água”, expõe Mário Gomes, curador do evento e professor da Universidade de Salamanca, na Espanha.

 

Essas conexões foram evidenciadas na programação do Colóquio LimnoSignos, realizado nesta quarta (28) e quinta-feira (29), no Instituto de Ciências Biológicas (IB). O evento marca as comemorações pelos 21 anos do Núcleo de Estudos Limnológicos (NEL) da UnB. O grupo reúne pesquisadores de diversas áreas no desenvolvimento de pesquisas sobre água. “Desde o início, o núcleo agrega a interdisciplinaridade. Esse evento veio consolidar o que fazemos há muito tempo”, destaca a professora Claudia Padovesi, coordenadora do NEL.

 

Ao longo do colóquio, perspectivas diferenciadas convergiram em reflexões sobre o futuro das águas do Cerrado. Na palestra de abertura, a crise hídrica no Distrito Federal foi abordada pelo superintendente de Recursos Hídricos da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal (Adasa), Rafael Mello. O gestor relembrou os principais fatores responsáveis pelo cenário e apresentou avanços recentes para a solução do problema.

 

A explicação de Rafael para a crise está em diversos aspectos. Entre eles, se destacam o aumento da população do Distrito Federal nos últimos anos, com consequente ampliação do consumo de água, e a redução no regime de chuvas entre 2016 e 2017, sobretudo onde se localiza a bacia do Rio Descoberto.

 

À época, o Distrito Federal teve o pior índice de chuvas já registrado. Historicamente, a média anual observada é de 1.400 milímetros. Naquele intervalo, houve queda da precipitação acumulada para 894 mm. “Em uma região de cabeceiras e nascentes que dependem muito da chuva, essa é uma situação desfavorável”, diagnostica.

 

Baixo investimento em novas fontes de abastecimento, carência de ações de conscientização da população quanto ao consumo, ausência de tecnologias para reúso da água e falta de recarga dos aquíferos foram outras causas mencionadas pelo superintendente.

Professores Mário Gomes (curador do colóquio) e Claudia Padovesi (coordenadora do NEL), destacam interdisciplinaridade das discussões. Foto: Raquel Aviani/Secom UnB

 

Desde 2016, a Adasa e a Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) passaram a adotar medidas para contornar o problema.

 

Um dos principais objetivos era a redução do consumo de água pela população em 15%, meta praticamente alcançada com a aprovação da tarifa de contingência e do racionamento nas regiões administrativas, que vigorou de janeiro de 2017 a junho de 2018. 

 

"Após a crise, reduzimos em média 10% do consumo. Em algumas regiões, chegamos a 20%", relata Mello.

 

Outros investimentos estão sendo realizados, com intuito de ampliar a capacidade de fornecimento de água. Incluem-se a construção do reservatório de Corumbá IV, a interligação dos sistemas de abastecimento da região, as obras para captação de água no Lago Paranoá e a alocação negociada de água nas proximidades de bacias em situação crítica.

 

Estudo realizado pela UnB também avaliou, com base na rede de distribuição de água, possíveis locais para instalação de bateria de poços para complementar o abastecimento da população, em eventuais períodos críticos. “Foram identificados 156 poços, no total. Caso o DF necessite de medida mais urgente, esses locais já estão definidos para explorarmos a água subterrânea”, garante o gestor.

 

A Adasa também tem aprimorado o uso de tecnologias da informação no monitoramento das águas do DF. Em 2017, a agência lançou o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos (SIRH-DF). Informações como níveis dos reservatórios, chuvas nas barragens e consumo da população podem ser conferidas na plataforma. 

 

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