INTERNACIONAL

Pré-Alas estimula discussão sobre desafios da disciplina no atual contexto global. Evento antecede Congresso da Associação Latino-Americana de Sociologia

 

Presidente da Associação Latino-Americana de Sociologia (Alas) e organizadores do evento em Brasília participaram da abertura do Pré-Alas, no auditório da Reitoria. Foto: Júlio Minasi/Secom UnB

 

As principais agendas e assuntos relacionados ao atual cenário político, econômico e social dos países latino-americanos são centro de debate no Pré-Alas, evento da Sociologia que acontece até esta terça-feira (25), no auditório da Reitoria da UnB. No encerramento do evento, que é aberto ao público, o ministro de governo da Bolívia, Carlos Romero, ministra conferência, a partir das 14h30.

 

Sociólogos, cientistas sociais, pesquisadores, estudantes de graduação e pós-graduação do Brasil e de outros países participam do evento, que traz uma prévia das discussões do XXXI Congresso da Associação Latino-Americana de Sociologia (Alas). Com o tema As encruzilhadas abertas da América Latina e a Sociologia em tempos de mudança, o encontro internacional será realizado no mês de dezembro, em Montevidéu, no Uruguai.

 

Durante a abertura do Pré-Alas, nesta segunda-feira (24), pesquisadores brasileiros se aprofundaram em reflexões sobre os desafios para a formação do pensamento sociológico no atual contexto mundial. Ex-presidente da Alas e coordenador do Laboratório de Políticas Públicas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Emir Sader abordou as transformações históricas ocorridas nas últimas décadas e os impactos sobre a sociologia latino-americana. 

Emir Sader avaliou a necessidade de a sociologia latino-americana suscitar reflexões sobre a realidade vigente nos países da região. Foto: Júlio Minasi/Secom UnB

 

De acordo com o pesquisador, três grandes episódios marcaram o mundo nos últimos tempos, de forma regressiva: a passagem do mundo bipolar, dividido entre o capitalismo norte-americano e o comunismo soviético, para unipolar, regido pela hegemonia imperial dos Estados Unidos; a emergência de um longo período de recessão econômica, após ciclo virtuoso de crescimento; e a mudança do estado de bem-estar social para o modelo neoliberal. Esses aspectos teriam afetado diretamente a América Latina, sobretudo com a instalação dos governos ditatoriais, o endividamento dos países e, em seguida, a abertura ao neoliberalismo. “Justamente a América Latina foi a região que mais se rebelou contra o projeto neoliberal”, pontua.

 

Com as dificuldades enfrentadas por esses países em fins do século XX e início do XXI, observou-se movimento similar de crise do pensamento crítico da intelectualidade. “Os processos políticos sentem a falta da colaboração de uma reflexão intelectual, teórica, crítica e criativa por parte do pensamento social”, avalia Emir sobre a necessidade de a academia incentivar reflexões práticas sobre a realidade.

 

Por sua vez, Paulo Henrique Martins, também ex-presidente da Alas e professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), acredita que o caminho para consolidar a sociologia latino-americana, de modo a promover uma ruptura ou revisão das estruturas do pensamento europeu, seja a formulação de uma sociologia transnacional. Esse é, segundo ele, um papel que a Alas tem assumido sendo única associação da área no planeta de caráter continental.

 

“A crise atual política da região não se desfaz do patrimônio da sociologia latino-americana. Ao contrário, a crise legitima a força do pensamento transnacional, que é o único lugar em que se pode emergir o sujeito crítico coletivo, que esteja conectado com as novas heterotopias”, afirma.

 

Esse fortalecimento transnacional das redes científicas da área tem começado a se estabelecer em outros continentes, como Ásia e África. Para o professor da UnB e presidente da Sociedade Brasileira de Sociologia, Carlos Benedito Martins, tal fato pode contribuir para diversificar as discussões da disciplina, sobretudo após o impacto da globalização na dinâmica do campo da Sociologia e sua ampliação à nível global. “Essas associações têm colocado em xeque as categorias constitutivas da Sociologia que nós tomávamos como naturalizadas”, alega.

Diretor do ICS ressaltou a importância da realização das discussões prévias ao Alas na UnB para reforçar diálogo teórico com outros países. Foto: Júlio Minasi/Secom UnB

 

OUTROS EVENTOS – O Pré-Alas é organizado pelo Núcleo-Rede Desenvolvimento e Democracia na América Latina da UnB, pelo Instituto da América Latina da Universidade Federal de Pernambuco e pela Fundação Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais.

 

Segundo o representante do Brasil no comitê diretor da Alas, Joanildo Burity, receber esse evento prévio em Brasília possibilita mobilizar a comunidade acadêmica da UnB para participar do encontro internacional no Uruguai.

 

Com realização bianual, o congresso da Alas se propõe a fortalecer a Sociologia e construir coletivamente novas formas de abordagem dos problemas sociais. “Temos tido um incremento na participação de estudantes e pesquisadores brasileiros no evento nos últimos anos”, afirma Joanildo.

 

Já para o diretor do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da UnB, Luís Roberto Oliveira, “o diálogo com colegas latino-americanos é muito importante e é algo que queremos renovar com mais intensidade a partir de agora”.

 

Além deste, outros dois importantes eventos da área da Sociologia estão sendo realizados em Brasília, com o envolvimento da UnB: o Encontro Nacional sobre Ensino da Sociologia da Educação Básica, sediado na instituição até esta terça (25), e o 18º Congresso Brasileiro de Sociologia, que vai até sábado (29), no Centro de Convenções Ulysses Guimarães.

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