LETRAS

Série homenageia mulheres que se destacaram na literatura nacional. Evento incluiu roda de conversa sobre a produção feminina na área

Lançamento reuniu a comunidade acadêmica para dialogar sobre obras publicadas na coleção. Foto: Raquel Aviani/Secom UnB

 

A Livraria da Editora UnB foi palco do lançamento do segundo livro da coleção Escritoras do Brasil nesta quarta-feira (6). A série, pensada pelo Senado Federal, busca dar visibilidade ao trabalho de mulheres marcantes na literatura nacional, mas pouco notabilizadas na época em que viveram. Ânsia Eterna é título da obra recém-lançada, escrita pela romancista, jornalista e teatróloga, Júlia Lopes de Almeida, uma das fundadoras da Academia Brasileira de Letras (ABL).

 

A reitora Márcia Abrahão e a diretora-geral do Senado, Ilana Trombka, prestigiaram o evento, que resulta de uma parceria entre a UnB e o órgão legislativo para dar maior projeção à série. Também estiveram presentes professoras do Departamento de Teoria Literária e Literaturas (TEL), além da idealizadora do projeto, Cleide Lemos, para um bate-papo com a comunidade acadêmica sobre a participação feminina na literatura.

 

Além de recuperar a memória de escritoras esquecidas pela história e tradição literária nacional, a coleção Escritoras do Brasil traz importante perspectiva para o desenvolvimento de políticas igualitárias entre gêneros no campo da literatura.

 

Esse é também um mecanismo para introduzir as obras femininas nas diversas instâncias de ensino. Dessa forma, elas podem ser apreciadas, avaliadas e reconhecidas. “A intenção é dar destaque à produção feminina e inseri-la no processo histórico e intelectual do nosso país”, aponta Cleide Lemos, idealizadora do projeto.

 

Ao total, 32 obras de escritoras brasileiras serão lançadas na coletânea. Os volumes já publicados estão disponíveis para acesso gratuito no site da Biblioteca do Senado. O primeiro livro, A mulher moderna: trabalhos de propaganda, de Josefina Álvares de Azevedo, foi publicado em 2018. Na próxima segunda-feira (11), será lançada a terceira obra, Opúsculo humanitário, escrita por Nísia Floresta.

 

A reitora Márcia Abrahão ressaltou a importância da aproximação entre UnB e Senado para a promoção e divulgação de obras suprimidas pelas narrativas hegemônicas. “Toda pauta a serviço da equidade nos interessa muito”, expressou.

Reitora Márcia Abrahão, diretora-geral do Senado, Ilana Trombka, docentes e idealizadora da coletânea estiveram na roda de conversa. Foto: Raquel Aviani/Secom UnB

 

Ilana Trombka, diretora-geral do Senado, surpreendeu-se com a dimensão já alcançada pelo volume de estreia. “Nada mais atual que o artigo de Josefina Álvares de Azevedo, datado de 1888. Passaram-se 141 anos e ainda existem pessoas que querem definir o que uma mulher deve ou não fazer”, reflete. 

 

Para a representante do órgão legislativo, os cenários de desigualdade vividos na sociedade ao longo dos anos e registrados na coleção demostram o quão é importante tornar públicas tais obras, sobretudo dentro das universidades. “Se as melhores reflexões não estiverem nas editoras ou em espaços plurais como as universidades, elas não estarão em lugar nenhum”, ponderou.

 

ENSINAMENTOS – O livro Ânsia Eterna foi originalmente lançado em 1903 e reúne 28 contos sobre o cotidiano da época, retratando, sobretudo, as opressões vividas pelas mulheres. A autora da obra é considerada a primeira escritora profissional do país.

 

Durante 53 anos, Júlia Lopes de Almeida escreveu crônicas, poesias, peças, romances, contos e livros sobre urbanismo. Ainda, foi pioneira na literatura infantil. A romancista influenciou personalidades como Cecília Meireles e, por 20 anos, sua obra foi leitura obrigatória em livros didáticos do ensino básico.

 

Para a professora do Departamento de Teoria Literária e Literaturas (TEL) Adriana Araújo, a proposta de homenageá-la na coleção surge em contraponto ao processo histórico de silenciamento das mulheres. A docente recordou que, apesar de Júlia Lopes de Almeida ser uma das idealizadoras da ABL, a escritora foi impedida de ocupar uma cadeira representativa por ser mulher. “De encontro a esse triste exemplo, vivemos um novo momento em que podemos recuperar esses fios da história e descobrir as nossas linhagens cortadas”, afirmou.

 

A professora Virgínia Leal, também do TEL, considera que a compilação como um todo vai muito além do resgate histórico e que a contemporaneidade das vidas e obras das autoras ainda deve ser refletida e agregada aos debates sobre gênero e profissão. “Acredito que a coleção é de suma importância, pois escritoras como Júlia Lopes de Almeida eram muito lidas no século XIX. Devido à desvalorização do trabalho feminino, acabaram não sendo mencionadas nas historiografias literárias e deixaram de ser publicadas, lidas e criticadas.”

 

*Estagiário de Jornalismo na Secom/UnB.

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