BOAS-VINDAS

Histórias, frases motivadoras, sorrisos e gestos serenos marcaram a recepção aos novos graduandos da UnB

Monja Coen despertou no público sentimentos de gratidão e empatia. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

Mil pessoas em silêncio, inspirando e expirando com consciência, observando a respiração e a presença pura no aqui e no agora. A cena ilustra como foi parte da manhã zen na recepção de boas-vindas desta quarta-feira (14), no Centro Comunitário Athos Bulcão. A vivência foi proporcionada pela vinda da monja Coen, que inspirou estudantes na Universidade de Brasília.

 

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Parabenizando os calouros logo no início de sua apresentação, a monja ressaltou que a vida universitária é um momento único e prazeroso, mas também difícil. Por isso, é preciso entrega e dedicação. “Há de se caminhar juntos nesse processo de crescimento da intelectualidade, que não pode estar separado da vida prática”, orientou.

 

“Um pouco de competição no ambiente acadêmico pode ser saudável, quando estimula a estudar mais e a se aprimorar, mas não quando visa esmagar o outro.” Em sua concepção, duas palavras devem ser lembradas: colaboração e cooperação. “Dar apoio para aqueles que têm dificuldade em uma área, para que seja uma jornada maravilhosa de oportunidades”, defendeu.

 

Coen, que já foi universitária e jornalista, contou episódios de sua vida que serviram de aprendizado para diferentes lições. Uma vez, ela teve conflitos com o mestre de sua ordem, que a perseguia e questionava. Quando passou a olhá-lo de outra forma e buscou conhecer melhor aquele ser, teve compaixão e foi capaz de criar um vínculo de respeito.

Para a monja Coen, cada palavra, gesto ou atitude pode ser uma grande transformação da realidade. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

Como cada um traz uma visão diferente a este lugar de concentração social que é a universidade, ela propõe compreensão das fragilidades e limitações do próximo, buscando despertar nas pessoas algo melhor, sem querer excluir ou destruir.

 

“É a capacidade de dialogar com o outro que transforma a realidade. A indignação é a alavanca dessa mudança, mas sempre da perspectiva da não violência”, expôs.

 

Em relação às demandas e rotina universitária, a monja considera que é necessário aprender a observar em profundidade, apreciar cada disciplina e buscar atender às exigências e aos prazos impostos. Mas a missionária budista alerta: “há informação demais, por isso deve-se relacionar e definir prioridades”.

 

CONSCIÊNCIA INTERIOR – A monja também falou do ímpeto da juventude, que muitas vezes acredita que a morte pode ser a solução para as adversidades. “Esses pensamentos passam por todos nós, mas sabemos como lidar com as dificuldades”, pontuou, lembrando que depressão é doença, precisa de apoio, conversa e, muitas vezes, até mesmo um remédio para facilitar a saída da crise. “E depois, que tal bons amigos, pessoas confiáveis e rede de apoio? É possível reencontrar a motivação para viver.”

 

A palestrante frisa a importância de apreciar a vida, viver cada instante com plenitude, uma vez que cada dia não é mais, é menos. “Nós podemos fazer muita coisa, mas a mente tem que estar calma. A sabedoria está em você e não fora. Essa é a beleza da vida comunitária, de estarmos juntos, crescermos juntos”, comenta.

 

MOTIVAÇÃO – Para a estudante Priscila Carvalho, a mensagem da monja Coen foi um alento e conforto para iniciar a segunda graduação. Já formada em Física, também pela UnB, ela agora ingressa no curso de Medicina.

Priscila Carvalho está entusiasmada para iniciar a nova graduação na UnB. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

“Fiquei muito emocionada porque a minha formatura também foi aqui [no Centro Comunitário] e vendo a monja, lembrei da minha avó. Fico pensando se ela poderá participar, daqui a seis anos, desse momento novamente”, refletiu.

 

De família humilde, Priscila diz que a educação transformou sua vida. Natural de Planaltina, ela tem agora a expectativa de contribuir de outra forma para a sociedade. “Vi na Medicina a oportunidade de estar em contato com as pessoas e de melhorar a vida de quem também veio de lugares simples, como eu”.

 

Professora de Biologia, Alice Melo Ribeiro considera as aulas inaugurais um momento de inspiração não só para a vida acadêmica e profissional, mas para a caminhada individual. “Ela realmente traz inspirações para nossa vida, e a gente precisa disso para entrar em sala de aula e iniciar o semestre com novos alunos.”

 

Para a docente, a reflexão vai despertar nos calouros a atenção, o compromisso com os estudos e com a vida acadêmica. “Nós estamos precisando muito dessa visão do todo, tanto dentro da universidade como em outros ambientes”, afirma.

 

O estudante de Biologia Renan Moura, tutor da disciplina Filosofia e História da Ciência, contou que o professor propôs a palestra como uma atividade de aula para os estudantes, que devem preparar um relatório sobre a temática abordada.

A professora Alice Ribeiro prestigiou a palestra ao lado da filha Clarice e de seu aluno Renan Moura. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

ENSINAMENTOS PRECIOSOS – Na visão da fundadora da Comunidade Zen Budista Zendo Brasil, a sociedade está passando por significativas mudanças e “é preciso preparar e educar uma humanidade que não seja egóica, mas capaz de sair do ‘eu’ pequeno para o grande olhar, que pode beneficiar todos os seres".

 

“Dalai Lama dizia que é mais importante criar pessoas éticas para o terceiro milênio do que religiosos”, mencionou. "O mundo hoje está em crise, mas é da crise que saem as coisas boas", disse a monja, citando dessa vez Leonardo Boff. “Não é um obstáculo, mas um portal que constitui novo olhar para a realidade.”

 

A respeito dos governos, Coen entende que democracia liberal precisa ser aprimorada, não descartada. “Churchill falava: a democracia liberal é, de todas as formas de governo, a menos pior”. A monja acredita que toda a vida é permeada de política, e que a verdadeira política consiste em fazer acordos.

 

DIVERSIDADE Em 2016, a monja Coen foi um dos 104 brasileiros que participaram do projeto Somos Brasil, do artista plástico britânico Marcus Lyon. 

Partes de um todo: monja Coen e Poran Potiguara trocaram saudações fraternais. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

Ela teve seu DNA analisado e utilizou o que descobriu para comentar a conexão que todos possuem com a ancestralidade. “Tenho sangue indígena, negro, árabe, judeu, europeu, tudo circula em mim e em todos nós.” 

 

Dessa forma, ela acredita que as pessoas se reconhecem em cada indivíduo que encontram. “Somos semelhantes, mas não iguais. Cada um tem a sua particularidade”, destaca.

 

Ela se ateve de forma especial ao recorte indígena, também sob influência da participação do aluno indígena Tanielson Rodrigues (Poran Potiguara, na identidade do seu povo), que foi mestre de cerimônia do #InspiraUnB.

 

A monja lembrou que há muito para se aprender com os povos tradicionais: “o ar, o sol, a lua, a terra. Somos um só corpo em conexão com a natureza”.

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