REGISTRO

Encontro aconteceu pela terceira vez na UnB. Discussões abordaram os direitos humanos com ênfase no contexto político brasileiro atual

 

Campus Darcy Ribeiro recebeu antropólogas e antropólogos de todo país para a 31ª RBA. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

Antropólogas e antropólogos de todo o país se reuniram entre os dias 9 e 12 de dezembro no campus Darcy Ribeiro para trocar experiências, montar um cenário local e global da antropologia da contemporaneidade e pensar propostas que contemplem o área do conhecimento como atuante nas políticas que impactam a sociedade.

 

A reunião, que acontece a cada dois anos, trouxe uma fala importante da docente do Departamento de Antropologia (DAN) e presidente da Associação Brasileira de Antropologia (ABA) Lia Zanotta, que buscou diferenciar ideologia de método científico. “Temos que pensar, hoje, que aos 30 anos da Constituição estamos diante de uma pressão conservadora que se admite como tal e tem como objetivo a limitação dos direitos individuais e dos povos tradicionais.”

 

Ela defende que é necessário fazer uma defesa sobre as ciências. “Sobre elas, se diz facilmente o absurdo de que fazemos ideologia. Fazemos ciência! Se falamos da importância do indivíduo e da posição social na percepção do que faz e de como pensa a problemática, isso se faz dentro de parâmetros de metodologia científica”, defendeu.

 

Outro destaque do evento foi a presença do antropólogo francês Eric Fassin. O cientista, que defende a democracia sexual como uma extensão do domínio democrático, abordou o movimento cíclico do pós-guerra como exemplo para tratar da intolerância ao manifesto de sexualidade.

Exposição de artesanatos foi uma das atividades abertas ao público durante a 31ª RBA . Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

LEGADO – O encontro, que é o maior do país na área e um dos maiores da América Latina, teve mais de 2.700 inscritos, dos quais mais de 60% eram mulheres. Pesquisadores de 16 países encorparam o número de participantes da reunião, que contou com 26 mesas-redondas e 66 grupos de trabalho, além de conferências, fóruns, simpósios especiais, minicursos, reuniões de trabalho e uma oficina visual sobre os ensaios fotográficos selecionados para o prêmio Pierre Verger.

 

As discussões temáticas dos grupos de trabalho aconteceram nos pavilhões João Calmon e Anísio Teixeira. O grupo de Estudos em Contextos Africanos: desafios, limites e perspectivas, por exemplo, trouxe discussões sobre identidade dos pesquisadores e seus interlocutores e contou com participantes do Brasil e outros países.

 

“Nosso grupo de trabalho tem se constituído como espaço democrático para debate e permite interação em diversos estágios de formação em Antropologia daqueles que estudam em contextos africanos. Isso torna possível a congregação dos pesquisadores espalhados pelo país”, enfatiza Andréa Lobo, professora do DAN e uma das coordenadoras do grupo de trabalho.

 

Zacarias Chambe, moçambicano, também participou do grupo de trabalho. Doutorando na Unicamp, ele considera que os direitos das minorias sejam parte das pesquisas dos antropólogos para que o poder político repense seu reconhecimento e territorialidade.

 

“A presença de um GT sobre pesquisas em contextos africanos é importante, pois é preciso que o sul seja pensado a partir do sul, quebrando uma hegemonia de pesquisadores de países do norte que imergem nesses contextos com teorias e perspectivas ocidentais”, defende.

Grupo de trabalho de estudos em contextos africanos teve 22 trabalhos aceitos para discussão. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

NEGRITUDE – Durante o encontro, houve uma assembleia convocada por antropólogos negros e negras. Com o objetivo de formar um comitê permanente, o grupo se mobilizou após a mesa de abertura do evento. "Consideramos grave a ausência de corpos negros em um local de poder como a mesa", afirma Antônia Araújo, antropóloga negra, cearense, que atua no Museu Nacional.

 

Após a reunião, o grupo escreveu uma moção, lida no encerramento, que pretende demarcar o local de fala destes pesquisadores, começando por sistematizar os grupos e coletivos que já existem. "É preciso, para ocupar não só o espaço da RBA, mas outros espaços de resistência, materializando uma luta histórica", diz Antônia.

 

RECONHECIMENTO – Também aprovada por aclamação, outra moção de destaque apresentada no evento foi a Carta de Brasília. No documento, apresentado pelo Comitê de Patrimônio e Museus da Associação Brasileira de Antropologia (ABA), consta o pedido de identificação e criação de cadastro das coleções e museus etnográficos e antropológicos existentes no país.

 

As lideranças quilombolas e indígenas também tiveram suas lutas reconhecidas no formato de diálogo Solo, Dueto, Terceto e Quarteto, iniciativas até então inéditas no encontro. Nessa proposta, pesquisadores e lideranças tiveram a iniciativa de dialogar com a plateia unindo o conhecimento de saberes tradicionais e lideranças com o de acadêmicos.

 

 

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