OPINIÃO

Mônica Castagna Molina é professora associada dos programas de Pós-Graduação em Educação e de Pós-Graduação em Meio Ambiente e Desenvolvimento Rural. É doutora em desenvolvimento sustentável pela UnB.

Mônica Castagna Molina

 

                                                                                                                    Uma história de luta; resistência e conquistas

 
As Licenciaturas em Educação do Campo foram concebidas para garantir a formação educadores(as) que já atuam nas escolas do campo e da juventude camponesa que nelas possa vir a atuar. A proposta teve início em 2007, com quatro experiências-piloto desenvolvidas pela Universidade de Brasília (UnB), a Universidade Federal de Minas Gerais, a Universidade Federal de Sergipe e a Universidade Federal da Bahia, por meio do Programa de Apoio à Formação Superior em Licenciatura em Educação do Campo (Procampo).


As Licenciaturas em Educação do Campo - LEdoCs promovem o ingresso na Educação Superior dos sujeitos camponeses: quilombolas; ribeirinhos; extrativistas; assentados da Reforma Agrária; gerazeiros; cerratenses e outros. Formam docentes para a Educação Básica, com ênfase na construção da Organização Escolar e do Trabalho Pedagógico para os anos finais do ensino fundamental e do ensino médio, em diferentes áreas de conhecimento, habilitando-os assim à docência multidisciplinar nas escolas do campo. Os(as) educadores(as) formados podem também atuar na gestão de processos educativos escolares e comunitários.


Outra relevante estratégia dessa política de formação docente é a oferta da Educação Superior por meio da Alternância Pedagógica. Nesse regime, a organização curricular prevê etapas presenciais equivalentes a semestres de cursos regulares, alternando Tempo Universidade e Tempo Comunidade, tendo em vista a articulação intrínseca entre a educação e a realidade específica das populações do campo. A alternância torna possível aliar o conhecimento científico aos saberes populares, produzindo um novo olhar sobre o território com a incorporação de conhecimentos mais aprofundados sem que os educadores camponeses em formação precisem se descolar de seu território, reconhecendo-se como protagonistas e sujeitos capazes de intervir sobre a realidade para transformá-la.


A garantia de chegada de preciosa diversidade de sujeitos camponeses a essas Licenciaturas tem  como corolário o reconhecimento da diversidade territorial de onde advêm, das diferentes formas de produção material da vida e das lutas que esses sujeitos coletivos protagonizam em cada um desses territórios. Este processo tem ampliando significativamente a produção do conhecimento na Universidade sobre tais territórios, a partir do protagonismo desses(as)  licenciandos(as) e egressos do curso, que seguem vinculados à UnB , em diversas  atividades de  ensino; pesquisa e extensão.


As matrizes do Projeto Político Pedagógico das LEdoCs consideram, assim, indissociáveis as questões que envolvem Terra-Luta-Trabalho-Educação-Território-Cultura-Identidade. Dessa indissociabilidade derivam, as grandes contribuições que têm sido geradas nos processos formativos de tais cursos tanto na Educação Básica, quanto na Educação Superior.


Nesse percurso, nos seus 15 anos de existência a LEdoC UnB, tem muito a comemorar. Acompanhada de muitas pesquisas produzidas pela Universidade durante sua execução, a experiência piloto consolida-se como uma política pública nacional. As LEdoCs atualmente estão funcionando em 33 Instituições de Ensino Superior, considerando as universidades e institutos federais, com 44 cur­sos com oferta permanente, visto que algumas universidades o disponibilizam simultaneamente em mais de um campus. Nas 44 licenciaturas presentes nas cinco regiões brasileiras estão matriculados cerca de 5.300 educandos, com 585 docentes concursados na Educação Su­perior para atuar nessa modalidade de graduação.


Por si sós, esses números já revelam a importância dessa política pública. Todavia, para além da dimensão quantitativa, as concepções e estratégias formativas propostas pela Licenciatura em Educação do Campo apresentam importantes mudanças nos processos de formação docente e produção de conhecimento nas universidades públicas brasileiras, dado o protagonismo dos próprios sujeitos camponeses em sua realização. Há dezenas de egressos atuando tanto docência, bem como na gestão  das escolas do campo . Celebramos também o fato de dezenas de egressos camponeses da LEdoC UnB terem já se tornado mestres; havendo ainda muitos egressos cursando mestrado e doutorado em diferentes áreas de conhecimento, tanto  na UnB , como em várias  outras IES.


Junto com seus educadores e educadoras, egressos e egressas, pós-graduandos e pós-graduandas, lutadores e lutadoras dos movimentos sociais e sindicais,  a LEdoC UnB deseja que esse momento seja alimento que  nos dê forças para avançar muito mais, ampliando em quantidade e qualidade o direito à educação dos sujeitos camponeses.

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