OPINIÃO

 

Djiby Mané é professor no curso Licenciatura em Educação do Campo (LEdoC), na área de Linguagens, da Universidade de Brasília, Campus Planaltina (UnB/FUP). Doutor em linguística pela Universidade de Brasília. 

Djiby Mané

 

A internacionalização  da educação por meio da mobilidade estudantil é um fenômeno antigo que consiste na circulação de estudantes em diversas universidades mundiais. Essa mobilidade envolve o contato entre estudantes de diferentes origens com suas respectivas línguas e culturas, com a língua e cultura do país acolhedor. É um fenômeno importante na disseminação do conhecimento e na cooperação internacional.


Na África, a mobilidade estudantil não é um fenômeno novo. Com a ausência de universidades antes das independências, muitas elites africanas eram formadas nas metrópoles. Assim, estudantes africanos deixavam seu país para continuar seus estudos no exterior como por exemplo, o caso dos líderes nacionalistas: Jomo Kenyatta (Quênia) na Inglaterrra, Kwame Nkrumah (Gana) nos Estados Unidos, Léopold Sédar Senghor (Senegal) na França, Amílcar Lopes Cabral (Guiné Bissau) e António Agostinho Neto (Angola) em Portugal.

 

Fora de seus países de origem, os estudantes africanos em mobilidade se organizam em associações no intuito de divulgar seus respectivos países por meio de palestras e debates sobre temas variados e atividades culturais. Esse tipo de organização vem reforçar a ideia de que “juntos somos fortes”, como ilustra o trecho abaixo:


“A história ensina-nos que a união é a força e adverte-nos a superar as nossas diferenças na busca de objetivos comuns, para lutar, com todas as nossas forças combinadas, pelo caminho para a verdadeira fraternidade e unidade africana”. (Discurso de agradecimento durante a sua eleição como líder da Organização da Unidade Africana, em 1963)


Assim, onde quer que se encontrem, os estudantes africanos procuram se organizar como, por exemplo, a criação do movimento linguístico-político negritude nos anos 30, com a publicação do jornal L'étudiant noir, que teve como idealizadores Aimé Césaire (Martinica), Léon-Gontran Damas (Guiana Francesa) e Léopold Sédar Senghor (Senegal), então estudantes em Paris.


Como ex-estudante da UnB pelo PEC-G (Programa de Estudantes-Convênio de Graduação), ressalto que a comunidade estudantil africana na UnB (Universidade de Brasília) sempre procurou se organizar. Os estudantes de cada país africano se organizam em associação para discutir questões relativas a seus respectivos países e comemorar as festas de independência.  Estas questões eram discutidas na instância superior, a associação dos estudantes africanos na UnB, que é responsável pela organização da comemoração do Dia da África.


A atratividade do ensino superior no Brasil para estudantes estrangeiros continua muito forte, tendo em vista os motivos dessa escolha: a qualidade da formação, o conhecimento da língua portuguesa, a reputação da UnB, a formação de professores na UnB, o valor dos diplomas, e o interesse cultural do país de origem e o Brasil. Além das vantagens, urge ressaltar que os estudantes africanos enfrentam barreiras linguísticas e culturais na UnB.


Em 25 de maio de 1963, foi criada a primeira organização intergovernamental do continente africano, após a independência da maioria dos países do continente. A Organização da Unidade Africana (OUA), mãe da atual União Africana (UA), nasceu com a adoção de sua Carta em Adis Abeba, na Etiópia, durante uma conferência diplomática organizada pelo então imperador etíope, Haile Selassie.


Para manter viva essa data, é comemorado em 25 de maio de cada ano o Dia da África de várias maneiras no continente e na diáspora. É um momento de reflexão e reengajamento para África. A data tornou-se um momento de reflexão sobre questões raciais que ultrapassam os limites geográficos. Desde então, essa data vem se tornando anualmente um momento de reflexão sobre os grandes desafios que o continente enfrenta no seu processo de desenvolvimento e de afirmação na geopolítica mundial.


Na UnB, essa data é comemorada todos os anos. Neste ano de 2023, ela ocorrerá de 21 a 26 de maio. Nessa semana, estudantes de origem africana celebram o Dia Mundial da África, que comemora o sexagésimo aniversário da assinatura dos acordos da OUA (Organização da Unidade Africana) em 25 de maio de 1963. É uma data muito importante para essa comunidade, pois marca momentos de reflexões por meio de palestras, debates, atividades culturais sobre o continente.

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