OPINIÃO

O Coletivo de Mães da UnB foi fundado em 2016 e defende, segundo perfil no Instagram, a "(r)existência de crianças e mães na academia".

 

 

Coletivo de Mães da UnB


​​O Coletivo de Mães da Universidade de Brasília (CMUnB) foi fundado em 2016, mas foi em 2020, no primeiro ano da pandemia de covid-19, que foram levantadas e priorizadas as principais demandas das mães discentes, docentes e servidoras técnico-administrativas da UnB e apresentadas à Reitoria.
 
Embora as dificuldades de discentes, docentes e servidoras que têm filhos sejam as mesmas que antes da pandemia, durante o isolamento essa sobrecarga ficou ainda mais evidente. Com o fechamento das creches e escolas, a responsabilidade pelo cuidado com bebês, crianças, enfermos e outras pessoas vulneráveis foi atribuída principalmente às mulheres, que se viram exaustas e, muitas vezes, impossibilitadas de exercerem seus estudos e trabalho remunerado.
 
Desde então, temos feito inúmeras trocas e compartilhamento acerca das realidades vivenciadas por mães e procurando apresentar à Universidade nossas demandas que são diversas e urgentes, diante de décadas de invisibilidade das mães nos espaços universitários.

São elas:

1) ausência de uma estrutura institucional de apoio e acolhida para bebês, crianças e mães/pais/responsáveis, quando precisam levá-los para a universidade, em razão da ausência de creches, férias e greves escolares, doenças, entre outros motivos; 2) fragilidade de dispositivos institucionais voltados para a realidade materna discente que visem à garantia de condições de permanência de mães no ambiente acadêmico, diminuindo a evasão e a desistência destas em razão das dificuldades enfrentadas para conciliar os estudos e as demandas relacionadas ao exercício da maternidade; 3) apoio financeiro e suporte em relação à saúde física e mental, sobretudo por meio de uma política de assistência estudantil que contemple as particularidades da vida estudantil de mulheres mães na universidade.
 
Entre a estrutura para bebês e crianças que falta à UnB pode-se citar:
 
1.     Fraldários nos banheiros dos prédios da UnB.
2.     Espaços de apoio para mães, bebês e crianças, para amamentação, aquecimento de papinhas e mamadeiras, brincadeiras em tapete, etc.
3.     Criação de creche/escola/brinquedoteca que atenda aos campi.
4.     Garantia de refeição gratuita no Restaurante Universitário para os filhos de estudantes.
 
Entre as desobstacularização ao estudo dos responsáveis, estão:
 
5.     Prioridade na matrícula de disciplinas e atividades obrigatórias para formatura.
6.     Prioridade e cotas em seleção para bolsas de pesquisas e extensão.
7.     Aumento do tempo máximo de permanência nos cursos.
8.     Garantia de ensino remoto e exercícios domiciliares, mesmo após o retorno das aulas presenciais, pois é muito difícil levar crianças para a universidade.
9.     Garantia de licença-maternidade também durante a graduação.
10.   Possibilidade de realizar trancamento justificado.
 
E entre o apoio financeiro e suporte de saúde física e mental:


11.  Ampliação do auxílio-creche e da assistência estudantil para mães.
12.  Atendimento prioritário de saúde física e mental.
13.  Prioridade e cotas em seleção para bolsas.
 
Essas são demandas que não são construídas em curto prazo ou no ciclo de vida acadêmica das estudantes, que dura entre 2 a 5 anos. Por isso a importância de instituir de forma permanente um grupo de trabalho representativo de todas as classes – servidores, discentes e docentes – e de todos os campi de forma a construir uma Política específica para mães.
 
Por isso, em março de 2023, a partir de reuniões realizadas entre o Coletivo de Mães e a Secretaria de Direitos Humanos da Reitoria da UnB, foi iniciada a construção do Grupo de Trabalho de Mães da UnB. Após uma chamada aberta para participação, decidiu-se que sua composição será formada por: 1 representante da SDH e 1 suplente, 3 representantes discentes da graduação e 1 suplente, 3 representantes discente da pós-graduação e 1 suplente, 3 representantes docentes e 1 suplente, 3 representantes servidoras e 1 suplente e 4 representantes dos campi e 1 suplente.
 
Nas reuniões, também se evidenciou a dificuldade de instituir políticas sem saber o quantitativo de mães, pais e responsáveis, ou seja, o tamanho do impacto do cuidado no estudo. Por essa razão, a ação prioritária desse GT permanente é o levantamento dessa informação e a sua inclusão nos registros da Universidade.
 
Por se tratar de um tema invisibilizado e pouco falado no contexto universitário, é urgente a sensibilização da comunidade acadêmica em torno do cuidado, bem como a capacitação de servidores para as peculiaridades e interseccionalidades que podem ter esse tema, como o caso de crianças atípicas, negras, indígenas, entre outras, e núcleos familiares de diferentes composições.

 

 

 

ATENÇÃO – O conteúdo dos artigos é de responsabilidade do autor, expressa sua opinião sobre assuntos atuais e não representa a visão da Universidade de Brasília. As informações, as fotos e os textos podem ser usados e reproduzidos, integral ou parcialmente, desde que a fonte seja devidamente citada e que não haja alteração de sentido em seu conteúdo.