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OPINIÃO

 

Carolina Dias Pinheiro é mestra em Estudos de Tradução e Revisora Braille da Diretoria de Acessibilidade do Decanato de Assuntos Comunitários

 

 

Sinara Pollom Zardo é Doutora em Educação pela UnB e Diretora da Diretoria de Acessibilidade do Decanato de Assuntos Comunitários

Carolina Dias Pinheiro e Sinara Pollom Zardo

 

Em 4 de janeiro, é comemorado o Dia Mundial do Braille. A data é comemorada desde 2019 e foi proclamada em novembro de 2018 pela Assembleia Geral das Nações Unidas em reconhecimento à importância do sistema Braille para a leitura e a escrita de pessoas com deficiência visual total (cegueira) em todo o mundo.

 

O sistema Braille foi criado pelo francês Louis Braille em 1825, quando ainda era um estudante no Institut Royal des Jeunes Aveugles de Paris (Instituto Real de Jovens Cegos de Paris). Trata-se de um sistema relativamente simples. Cada célula (ou cela) braille é composta por seis pontos, dispostos em duas colunas com três pontos cada. O braille é universal por definição. A diferente combinação desses pontos é usada em diferentes alfabetos, sinais matemáticos, símbolos químicos, linguagem informática e linguagem musical. Por padrão, o indicado é que uma cela braille caiba no espaço dos dedos, bem onde ficam nossas digitais. Em comemoração à data, vamos explorar seis pontos de destaque (pegaram a referência?) na trajetória do braille.

 

PONTO 1: A MÁQUINA DE ESCREVER EM BRAILLE – A primeira forma de escrever em braille é com a clássica reglete, em que o papel é fixado sobre uma prancheta e um molde com as celas braille é pressionado por uma punção nos locais demarcados para produzir o relevo dos pontos. Para agilizar esse processo, é possível escrever em uma máquina própria para o sistema braille. A primeira máquina pensada para escrever o sistema braille foi inventada em 1892 pelo americano Frank Haven Hall. Mais tarde, em 1951, David Abraham, um carpinteiro que trabalhava na Perkins School for the Blind (Escola Perkins para o Braille), desenvolveu uma máquina de escrever que ficaria conhecida como máquina Perkins, cujo sistema de funcionamento, bastante simples e intuitivo, e muito parecido com uma máquina de escrever tradicional, permanece em uso até hoje.

 

PONTO 2: O BRAILLE NO BRASIL – No Brasil, o dia Nacional do Braille é comemorado em 8 de abril. A data é o aniversário de José Álvares de Azevedo, que em 1850 passou a trabalhar pelo objetivo de inserir no Brasil o sistema Braille. Azevedo era cego de nascença, mas o apoio de sua família proporcionou-lhe a oportunidade de estudar no Instituto Real dos Jovens Cegos de Paris (sim, o mesmo de Louis Braille). De volta ao Brasil, aos 16 anos, Azevedo iniciou um trabalho incansável como professor de pessoas cegas. O resultado da luta de Azevedo resultou na criação do Imperial Instituto dos Meninos Cegos, hoje Instituto Benjamin Constant, um centro nacional da área de deficiência visual, impressão de livros braille e oferta de cursos na área.

 

PONTO 3: BRAILLE NOS COMPUTADORES E BRAILLE FÁCIL – A chegada da informática abraçou a escrita Braille com os softwares que permitem que o usuário escreva e imprima em braille. Há uma variedade grande de softwares com esse objetivo, mas aqui vamos dar destaque ao Braille Fácil. Esse sistema é um transcritor braille em língua portuguesa, focado no Braille Unificado Brasil-Portugal. O Braille Fácil foi criado por uma equipe totalmente brasileira e multidisciplinar em 2002, com o fomento de recursos provenientes do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). O programa é simples e leve, e tem distribuição gratuita. Também é o principal programa utilizado para produzir materiais em em braille na UnB.

 

PONTO 4: PRODUÇÃO DE MATERIAIS ACESSÍVEIS EM BRAILLE NA UNIVERSIDADE – O início da produção de material em braille na UnB tem como referência a criação do Laboratório de Apoio às Pessoas com Deficiência Visual (LDV), na Faculdade de Educação. O LDV foi criado em 1994, com objetivo de ofertar recursos e serviços especializados aos estudantes com deficiência visual (cegueira e baixa visão), favorecendo a difusão do sistema braille e das tecnologias assistivas dentro da universidade. A partir de 2016 as ações do LDV foram ampliadas no âmbito da pesquisa e da extensão, por meio da realização de cursos de formação para o ensino do sistema braille, produção de material em formato digital acessível, produção de material em áudio e em caracter ampliado. Atualmente o LDV atua em parceria com a DACES/DAC e coordena 40 bolsistas de graduação que atuam na produção de materiais acessíveis para os estudantes com deficiência visual vinculados aos cursos de graduação e pós-graduação.

 

PONTO 5: OUTRAS ACESSIBILIDADES E O BRAILLE – Quais as novas tecnologias disponíveis? Além dos citados editores de texto, podemos citar as modernas impressoras braille (temos duas aqui na UnB), que tem comando sonoro, acesso remoto e são capazes de imprimir documentos extensos e complexos. Na UnB temos também as Linhas Braille, dispositivos que permitem a leitura em braille do conteúdo da tela de um computador.

 

PONTO 6: O QUE AINDA FALTA? – Nosso objetivo deve ser sempre e continuamente, o desenho universal. Essa é a concepção de produtos, ambientes, programas e serviços a serem usados por todas as pessoas, sem necessidade de adaptação ou de projeto específico, incluindo os recursos de tecnologia assistiva. Em termos práticos, isso significa conceber ações que desde o início sejam acessíveis. Que ao comemorar esta data, possamos refletir, também, sobre a acessibilidade para as pessoas com deficiência visual como um direito fundamental para a participação social e o exercício da cidadania.

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