OPINIÃO

Cleyton Hércules Gontijo é professor no Departamento de Matemática na Universidade de Brasília e doutor em Psicologia.

Cleyton Hércules Gontijo

A criatividade é uma das características humanas mais apreciadas na atualidade. Credita-se a ela o poder de construir soluções que sejam simultaneamente originais e úteis para resolver diferentes tipos de problemas, dos mais comuns do cotidiano aos mais complexos do campo das ciências e das tecnologias.


A importância da criatividade é destacada no calendários de eventos, com duas datas para celebrá-la: em 21 de abril comemora-se o dia mundial da criatividade  e em 17 de novembro celebra-se o dia nacional da criatividade. Para além dessas datas, considero que todo dia deve ser dia para exercitar e celebrar a criatividade.
Fugindo das abordagens mais comuns do tema, proponho refletir acerca da expressão criativa no campo da matemática. Essa área do conhecimento é vista por muitas pessoas como difícil, complexa, que somente “gênios” ou pessoas dotadas de habilidades especiais para aprendê-la. Isso é um dos mitos que afastam as pessoas da matemática e reforçam práticas pedagógicas nas escolas que não motivam os estudantes para estudá-la e seguir suas carreiras em profissões que requerem conhecimentos aprofundados nos seus domínios.


Considero que todos são capazes de aprender matemática, ainda que alguns necessitem de tempos e recursos diferenciados para alcançar o sucesso nessa disciplina. Também considero que todos podem apreciar e reconhecer o seu valor para o desenvolvimento da humanidade. Afinal, a matemática está fortemente presente no dia a dia, nos auxiliando na resolução de diferente tipos de problemas, em alguns momentos de forma explícita, requerendo por exemplo a execução de cálculos e medições e em outros de forma implícita, sem realizar contas, mas requerendo a aplicação da lógica, da elaboração e testagem de hipóteses, na validação de estratégias e formas de expressão do pensamento. Infelizmente, nem todos relacionam esses últimos elementos às habilidades de pensamento matemático.


No dia nacional da criatividade, destaco três elementos em relação à matemática. O primeiro refere-se à criatividade no campo científico da matemática, que caracteriza o trabalho de acadêmicos e pesquisadores na produção de conhecimentos que são significativos para a humanidade, cujas aplicações podem resultar em valiosos produtos.


O segundo refere-se à ação de professores que buscam ensinar matemática de forma criativa, tanto do ponto de vista das metodologias empregadas quanto das atividades propostas para os estudantes. Mostram uma matemática viva, pulsante, com aplicações, colocando os estudantes como protagonistas do processo de aprendizagem.


O terceiro refere-se à criatividade que se manifesta quando os alunos formulam problemas, encontram diferentes maneiras para resolvê-los, inventam e provam teoremas, deduzem com independência o funcionamento de fórmulas e descobrem métodos originais de resolução de problemas não padronizados. Essa expressão criativa reflete motivação, apreço e desejo de aprender e obter sucesso com a matemática.


O estímulo à criatividade em matemática pode incluir atividades que visam o desenvolvimento da capacidade de: formular hipóteses matemáticas sobre causa e efeito em uma situação; de determinar padrões em situações matemáticas; de romper com formas de pensar fixas e rígidas para adotar estratégias flexíveis para obter soluções em uma situação matemática; considerar e avaliar ideias matemáticas incomuns, de pensar em suas consequências para uma situação matemática; de sentir o que está faltando em uma dada situação matemática e de fazer perguntas que permitirão preencher as informações matemáticas que faltam; e dividir problemas matemáticos gerais em subproblemas específicos para obter a solução.


Celebrar os dias nacionais e globais relacionados com matemática, bem como os relacionados à criatividade pode motivar as crianças e adolescentes, aumentando o seu letramento matemático e seu envolvimento com os conteúdos dessa disciplina.

ATENÇÃO – O conteúdo dos artigos é de responsabilidade do autor, expressa sua opinião sobre assuntos atuais e não representa a visão da Universidade de Brasília. As informações, as fotos e os textos podem ser usados e reproduzidos, integral ou parcialmente, desde que a fonte seja devidamente citada e que não haja alteração de sentido em seu conteúdo.