OPINIÃO

Cristiano Hoppe Navarro é coordenador geral do Feac 2022. Desde 2016, é técnico desportivo da Diretoria de Esporte e Atividades Comunitárias. É mestre em Educação pela UnB pesquisando criatividade.

Cristiano Hoppe Navarro

 

O Guia do Mochileiro das Galáxias comenta sobre o ato de voar:

 

“Há toda uma arte, ou melhor, um jeitinho, para voar. O jeitinho consiste em aprender como se jogar no chão e errar. Encontre um belo dia e experimente. Não ouça nada que possam dizer nesse momento porque dificilmente seria algo de útil. Provavelmente dirão algo como: ‘Meu Deus, você não pode estar voando!’ É de vital importância que você não acredite nisso: do contrário, subitamente estará certo.”

Douglas Adams, o escritor homenageado no Dia do Orgulho Nerd (25 de maio)

 

Os voos da imaginação são a faceta que mais distingue a cultura geek. Na terceira década do século 21, a maior força de transformação é a criatividade não restringida, fazendo surgir a inovação em todas as dimensões da vida. São tempos disruptivos sob uma única marca – a mudança é a única constante.


A pandemia acelerou essas tendências e o “novo normal” não ignora mais o mundo digital. A inteligência artificial aumenta exponencialmente rumo ao momento em que ultrapassará a humana. A realidade expandida infinitamente propõe a fusão entre o real e o virtual. Os filtros, usados por 700 milhões de pessoas no Instagram e Facebook, são o exemplo inicial dessas possibilidades. O metaverso está erguendo seus pilares, com a internet 5G garantindo as interações instantâneas. E as comunidades de games como League of Legends e Fortnite diversificam suas atividades em outros campos.


Aqueles assim chamados nerds – ou geeks – abraçaram muitas vezes a novidade que depois se naturalizou, como os videogames, desde Pong e Pac-man até superar o cinema como a maior indústria do entretenimento. Antes, os filmes norte-americanos sempre separaram os esportistas de um lado e os nerds do outro. Mas o estereótipo implodiu em um mundo sem fronteiras.


Os esportes eletrônicos são a junção de duas realidades, com premiações milionárias, eventos globais e audiências crescentes. Os games são como as animações em comparação ao live action: permitem, em tese, a concretização de qualquer realidade imaginada. Até o Comitê Olímpico Internacional, ante o apelo aos jovens nativos digitais, analisa a inclusão dos e-sports no programa das olimpíadas.


A UnB – sempre a vanguarda entre os nerds – já faz isso. As olimpíadas da Universidade, o Feac (o Festival de Esporte e Atividades Comunitárias), nas duas últimas edições, contaram com diversas modalidades eletrônicas. Em 2022, com três mil atletas inscritos, são elas: League of Legends, CS:GO, Fortnite, Clash Royale, Fifa 22, Gartic, Stop, Truco, Civilization VI e Free Fire.


Destaca-se nos esportes eletrônicos a auto-organização dos participantes, sem a necessidade tão premente de árbitros para mediar a competição. Outra característica é o streaming, mais fácil de se realizar, atraindo as torcidas dos diferentes cursos, que comentam e interagem, “distantes, mas juntos” (lema do Feac 2021). São modalidades em variados gêneros, coletivos e individuais, do tiro em primeira pessoa às batalhas multiplayer, jogos de cartas e estratégia por turnos, adivinhação de desenhos e simulação de futebol.


Será que o esporte mais popular do mundo será disputado por 22 jogadores, cada um em sua casa, com sensores de movimento? Organizado pela Deac, o Feac, além de retomar os esportes presenciais nas quadras e campos, ainda traz as modalidades acadêmicas (Quiz, Soletração e Debate) e sete artes em mostras competitivas remotas. Tudo somado, resulta no Ranking Geral, disputado entre as Atléticas e Centros Acadêmicos dos cursos. Ou seja: não faltam oportunidades para voar.

 

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