OPINIÃO

Otávio de Tolêdo Nóbrega é professor da Universidade de Brasília, especialista em Gerontologia pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), presidente do Departamento de Gerontologia da SBGG-DF e membro do Conselho dos Direitos do Idoso do Distrito Federal (CDI/DF).

 Otávio T. Nóbrega

 

No dia 16 de maio, celebra-se nacionalmente o Dia do Geriatra. Além de reconhecer publicamente a relevância e a beleza desta especialidade médica, de que outra forma nobre e digna poderíamos marcar a data? Respondo: dedicando este espaço para divulgar informações úteis e confiáveis para promover a saúde da pessoa idosa e a longevidade geral, ao melhor estilo que um geriatra faria. Por isso, compete informar: vacina não é só coisa de criança. Vacinas são para todas as fases da vida, e os benefícios para a pessoa idosa são vários.


A Influenza (ou gripe) causa 500 mil mortes diretas ao ano no mundo, além de exacerbar em cerca de 30% o risco de morte por doenças cardiovasculares, pneumonia ou AVC, sobretudo entre os mais velhos. Costuma-se confundir resfriado com gripe, e é bom saber que a gripe se caracteriza por um quadro mais forte, com febre alta, dores pelo corpo (articulações, cabeça), e um grande mal-estar que pode levar a prostração/indisposição intensa. Em síntese, um nariz escorrendo nem sempre representa gripe, podendo ser um singelo resfriado que, em regra, tem bem menor potencial de letalidade. O vírus da gripe existe em 3 tipos diferentes (A, B e C; apenas A e B são clinicamente relevantes) e altamente mutáveis, o que torna necessária uma nova imunização a cada ano. Um mito frequente é o de que a vacina possa causar gripe, o que não é possível pois a vacina é construída a partir de vírus inativado e fragmentado, incapaz de qualquer infecção. Pessoas que tomaram a vacina e ainda assim desenvolveram sintomas gripais provavelmente confundem a gripe com um resfriado. São muitos os vírus de resfriados que circulam entre nós. A grande campanha de imunização contra a influenza (em curso até 09 de julho de 2021) costuma ser feita às vésperas das grandes quedas de temperatura no Brasil, fazendo com que o período da imunização coincida com as condições favoráveis para dispersão dessa quantidade de vírus respiratórios, tanto causadores de gripe quanto de resfriados, levando à falsa impressão de que o sujeito se vacinou e adoeceu, quando os sintomas vieram na verdade de uma infecção por um micróbio não relacionado à vacina.


Ainda por cima, a forma mais comum da vacina (a trivalente, disponível pelo SUS) protege contra apenas 3 das estirpes do vírus mais associadas com letalidade (A-H1N1, A-H3N2 e B). Existe uma forma tetravalente que protege contra uma estirpe B adicional, sendo disponível apenas pela rede privada de laboratórios para aquisição. Ambas tem eficácia superior a 60% para idosos, sendo bem seguras e bem toleradas, podendo ser aplicada mesmo em pacientes imunocomprometidos. Reações adversas, quando acontecem, normalmente são brandas, podendo variar de uma sensibilidade local no ponto da aplicação, dor moderada pelo corpo e uma febre leve que podem ser administradas com analgésicos/antitérmicos orais. Por fim, é importante que fique claro que a vacina não previne que a pessoa contraia o vírus e tenha sintomas da influenza, mas previne quadros mais graves, impedindo que a pessoa precise recorrer ao serviço de saúde, seja internado, ou desenvolva um quadro respiratório mais grave decorrente de uma infecção oportunista, como uma pneumonia. Como não aderir a este benefício que o SUS assegura gratuitamente a nossos idosos e a outros grupos de risco? A comunidade geriátrica recomenda e agradece.

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