OPINIÃO

Isaac Roitman é doutor em Microbiologia, professor emérito da Universidade de Brasília e membro titular de Academia Brasileira de Ciências.

Isaac Roitman

 

Encruzilhada é um lugar onde se cruzam duas ou mais ruas, estradas ou caminhos. Segundo a Umbanda, é um lugar onde são feitas oferendas a Exu e Pomba gira. Essas oferendas têm as mais variadas funções, como proteção, prosperidade, descarrego, entre outras e são chamadas de despachos. No sentido figurado, como ser considerada um dilema que torna difícil tomar uma decisão.

 

Segundo Woody Allen, “mais do que em qualquer época, a humanidade está numa encruzilhada. Um caminho leva ao desespero absoluto. O outro, à total extinção. Vamos rezar para que tenhamos a sabedoria de saber escolher”.

 

No Brasil, com a pandemia da Covid-19, tudo leva a crer que não escolhemos os caminhos corretos para enfrentá-la. Em vez de escolhermos os caminhos indicados pela Ciência, muitos optaram pelos caminhos da negação. As consequências foram catastróficas: centenas de milhares de brasileiros/as morreram, e o sistema de saúde colapsou.

 

Deveríamos ter prestado mais atenção ao pensamento de Arthur Schopenhauer: “O maior erro que um homem pode cometer é sacrificar a sua saúde a qualquer outra vantagem”.

 

Ainda é tempo de mudanças de rumo, não permitindo aglomerações, seguir as orientações sanitárias, oferecer condições para a população sobreviver com dignidade no isolamento social e sobretudo dar maior velocidade ao programa nacional de vacinação.

 

É pertinente lembrar o pensamento de Juscelino Kubistchek: “Costumo voltar atrás, sim. Não tenho compromisso com o erro.” Também é pertinente lembrar o pensamento de Che Guevara: “O importante não é justificar o erro, mas impedir que ele se repita.”

 

Ainda não sabemos quando, mas certamente a pandemia que nos desafia terminará. Surgirão então novas encruzilhadas. Grandes desafios despontam no horizonte. Entre eles a mitigação e talvez a extinção da desigualdade social vergonhosa que a pandemia, como se fosse uma lente, mostrou o seu tamanho.

 

Precisamos conquistar um modelo econômico em que nenhum cidadão tenha fome e condições de vida digna. Um modelo em que todas as crianças e jovens tenham uma educação de qualidade onde os valores éticos, de solidariedade, de bondade, de amorosidade, entre outros, sejam consolidados e praticados. Temos que desenvolver um sistema de Ciência e Tecnologia que nos torne um país soberano, que resulte em um estado de bem-estar na sociedade.

 

No nível planetário, os desafios são imensos. O quinto relatório global da biodiversidade da Organização das Nações Unidas aponta que a humanidade está em uma encruzilhada. O relatório reconhece o valor da biodiversidade, a necessidade de restaurar os ecossistemas dos quais depende toda a atividade humana e a urgência de reduzir os impactos negativos de tal atividade.

 

Entre as recomendações, o relatório aponta para transições em diferentes dimensões: redesenhando os sistemas da agricultura sustentável, o sistema alimentar sustentável, a infraestrutura das cidades (infraestrutura verde), para o consenso de vivermos em harmonia com a natureza.

 

Vamos esperar, torcer, rezar, trabalhar para que, nas encruzilhadas que nos esperam, tomemos sempre os melhores caminhos. Vamos finalmente lembrar o pensamento de Albert Einstein: “No meio da confusão, encontre a simplicidade. A partir da discórdia, encontre a harmonia. No meio da dificuldade reside a oportunidade.”

 

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Publicado originalmente no Monitor Mercantil em 08/04/21

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