OPINIÃO

Braulina Baniwa é mestranda no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da UnB (PPGAS). Militante de direitos indígenas, humanos e das mulheres, é pesquisadora indígena e ex-presidente da Associação dos Acadêmicos Indígenas da UnB (AAIUnB). Atua como membra da Articulação Brasileira de Indígenas Antropóloges (Abia) e da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga).

Braulina Baniwa

 

Filhas e netas daquelas que foram conhecidas como complemento de liderança, cacique e pajé nas comunidades indígenas, hoje são universitárias, pesquisadoras. As indígenas mulheres, nos últimos dez anos, têm alcançado espaços de voz e fala nas comunidades, instituições, e a entrada nas universidades, na UnB. Somos mais de cem mulheres de vários povos, na graduação, mestrandas e doutorandas, e tornando-se profissionais de destaques na luta do movimento indígena e de seus povos. O corpo-território está em trânsito fazendo diferença, no caso falando por mim, não apenas como objeto silenciado por pesquisadores não indígenas, mas como pesquisadoras.

 

Trago, nessa fala, a importância do corpo-território presente na universidade carregada de ciência indígena, esse corpo que vem com a sua própria formação, que muitas vezes é questionada de uma forma que consideramos violenta, recusando o entendimento do que é ser indígena mulher. Para além de estar presente, a presença física rompe a história de ser sujeita da oralidade, agora está no campo da escrita, passa-se a dominar ferramentas, demarcando na memória escrita de que indígenas mulheres têm suas próprias ciências e conhecimentos, antes escritas na língua colonial, por homens não indígenas.

 

No entanto, ainda há várias dificuldades enfrentadas pelas indígenas estudantes mulheres no contexto da Universidade. A vida acadêmica nos mostra lugares de formação e de conquista profissional, mas também tem fatores que são lugares de sofrimento e violência. Essa face é silenciada e marcada pelo medo e a incerteza, que caminham juntos.

 

O corpo coletivo identitário é a força que indígenas têm para sobreviver em quaisquer espaços, por isso, conhecer a prática do cuidado com o corpo dentro do território caminha junto com o viver bem dos povos indígenas.

 

Não se trata de uma história sendo escrita em linhas e as indígenas mulheres desconstruindo a posição desse silêncio nas academias, trazendo histórias, conhecimentos milenares e ciências próprias. Nós, enquanto indígenas mulheres, sejamos mães, avós, filhas, netas, lideranças comunitárias, professoras, agentes comunitárias de saúde, antropólogas, médicas, enfermeiras e outras tantas profissionais, estamos na luta diária pela sobrevivência da nossa ciência enquanto indígenas. É no vivenciar que nós formamos no nosso próprio conhecimento, que é singular, pois somos a diversidades e estamos espalhadas nos 26 estados do país. Sim, nós estamos nas universidades, mas não deixamos de ser indígenas.

 

Sim, estamos no passado e presente, com certeza as nossas filhas e netas continuarão ocupando esses espaços no futuro também.
É por nós e por elas que estamos na luta pelos direito.

 

Referências:
AURORA, B. A Colonização sobre as mulheres indígenas: Reflexões sobre cuidado com o corpo. Interethnic@ - Revista de Estudos em Relações Interétnicas, v. 22, n. 1, p. 109-115, 3 jul. 2019.

 

CORRÊA XAKRIABÁ, Célia Nunes. O Barro, o Genipapo e o Giz no fazer epistemológico de Autoria Xakriabá: reativação da memória por uma educação territorializada. (Dissertação) Mestrado Profissional em Sustentabilidade junto a Povos e Terras Tradicionais (MESPT). Universidade de Brasília (UnB), 2018. 218 p.

 

SILVA, Núbia Batista da. Identidades, vozes e presenças indígenas na Universidade de Brasília sob a ótica da Análise de Discurso Crítica. Dissertação – Mestrado em Linguística. Universidade de Brasília, 2017.

 

 

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