OPINIÃO

Volnei Garrafa é professor da Universidade de Brasília e diretor do Centro Internacional de Bioética e Humanidades da UnB.

Volnei Garrafa

 

Professora titular e emérita da UnB, aposentada há pouco tempo, Rita Laura Segato começa colher os frutos de seu fervilhante plantio como professora, pesquisadora e militante. Acaba de ser agraciada com o importante prêmio Villegas de Ciências Sociais concedido pelo Colégio de México. Recentemente já havia sido homenageada com os prêmios Pensamiento Argentino (Buenos Aires - 2019) e o prestigioso prêmio Latinoamericano y Caribeño de Ciencias Sociales (Flacso – 2018).


Nos próximos meses, estão previstas publicações de alguns de seus principais livros em importantes centros internacionais: L’écriture dans le corps des femmes assassinées de Ciudad Juarez, na Petite Bibliothèque Payot, Paris (França); Gegen-pädagogik der Grausamkeit, Viena: Ed. Mandelbaum (Austria); Foundational Essays on the De/coloniality of Power, Duke University Press (Estados Unidos), em parceria com Catherine Walsh e Walter Mignolo.  


Ingressou na UnB em 1985 tendo trabalhado até 2010 no Departamento de Antropologia. Posteriormente foi convidada a credenciar-se nos Programas de Pós-Graduação em Bioética (FS) e Direitos Humanos (Ceam). É pesquisadora 1A do CNPq desde 1998. Nas redes sociais, seu nome leva ao acesso de cerca de cem vídeos e 1.3 milhões de visualizações. Foi coautora da primeira proposta de ação afirmativa para garantir o ingresso de estudantes negros e indígenas na educação superior no Brasil (1999).


Rita Segato é uma pesquisadora que nunca temeu caminhos tortuosos. Pelo contrário, enfrenta-os de peito aberto como se essa fosse sua missão planetária. Como poucas pessoas, tem a capacidade de desvendar os meandros da realidade e seus conflitos, por mais espinhosos que sejam, enfrentando-os com rara coragem e obstinação. As belezas e misérias por ela mostradas, especialmente aquelas relacionadas com a cultura, resistência, sofrimento e lutas de mulheres – geralmente vulneradas e estigmatizadas pela hipocrisia societária contemporânea – estão no cerne de sua obra. Por concentrar invulgar capacidade de compreender, interpretar e mostrar a essência concreta que marca a vida cotidiana das sociedades humanas – especialmente de mulheres indígenas e pobres – é tão respeitada.


Sua inquietude é envolvente e perturbadora, além de algumas vezes assustadora. Pensar diferente, em meio a repetitivos lugares comuns, assusta.  Suas ideias percorrem com argúcia e coragem caminhos epistemológicos que poucas pessoas se arriscam desbravar. São provas contundentes dessas afirmações suas passagens audaciosas enfrentando o desconhecido na insistente defesa das mulheres indígenas em situação de permanente vulnerabilidade em diferentes paragens da Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, El Salvador, Honduras, Nicarágua, Peru... ou no histórico e pioneiro julgamento internacional de militares assassinos de mulheres indígenas na Guatemala; ou, ainda, em arriscada incursão por Ciudad Juárez, na fronteira do México com os Estados Unidos, onde máfias sangrentas ligadas ao tráfico de drogas coabitam com a morte brutal e permanente de centenas de mulheres.


Essa é Rita Laura Segato; mulher, pesquisadora, militante. Hoje, cidadã do mundo!

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