OPINIÃO

 

 

Wivian Weller é professora da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB) e bolsista produtividade em pesquisa do CNPq. Coordenadora do Geraju – grupo de pesquisa Gerações e Juventude (geraju.net.br).

 

 

Lucélia Bassalo é professora do Departamento de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do Estado do Pará (UEPA). Coordenadora do Jeds – grupo de pesquisa Juventude Educação e Sociabilidades (jeds.com.br).

Wivian Weller e Lucélia Bassalo

 

Em um estudo recente, publicado na revista Estudos Avançados da USP, analisamos a atuação de grupos formados por jovens conservadores em ambientes virtuais. Movimentos conservadores sempre existiram. Enquanto estilo de pensamento, o conservadorismo surgiu na primeira metade do século XIX quando determinados grupos se viram obrigados a assumir uma posição diante do pensamento revolucionário burguês e ao modo de pensar do direito natural, se constituindo como um contramovimento em oposição consciente ao movimento progressista da época (Mannheim, 1981).

 

Ao analisar a organização de grupos em ambientes virtuais, verificamos que o engajamento em um “contramovimento” representa um elemento comum e constituidor desses grupos. Nas páginas do Facebook referentes ao período de 2012 a 2020, constatamos que os jovens demonstram ter consciência de como querem ser identificados ao acrescentarem em sua descrição a frase: “Somos jovens conservadores e não temos vergonha disso”.

 

Os jovens assumem para si a tarefa de estabelecer uma polarização com temas, grupos e objetos difusos que indiquem caráter inovador ou progressista. Cada defesa se estabelece a partir da identificação de um tema potencialmente contrário a seus interesses. É frequente a utilização de palavras ofensivas para delinear seus opositores, por exemplo, “esquerdopatas”, “petralhas”, “comunas”, “bolsa palhaço” e “abortistas”. Outro aspecto se refere a intolerância a intelectuais identificados como marxistas, a personalidades e pensadores que consideram como defensores da socialdemocracia, do socialismo ou comunismo. São assumidamente jovens que defendem um estilo de pensamento “antiprogressista” e “antiesquerda”.

 

A partir da análise das páginas de grupos no Facebook, constatou-se a existência de grupos que se definem de forma difusa como conservadores e que constituem uma unidade geracional dentro de uma mesma conexão geracional (Mannheim, 1993). No entanto, parecem não reconhecer o que eles têm em comum com seus coetâneos, com aqueles que pertencem a unidades geracionais distintas e que também são jovens. Existe uma fratura entre grupos que vivem o mesmo tempo cronológico, que pertencem à mesma geração, provocada por disputas ideológicas e pela tentativa de construção de um novo contexto, no qual a apropriação do que definem como pensamento conservador passa a ser tratada como nova ou única alternativa viável para alguns grupos jovens dessa geração.

 

Clique aqui para ler o artigo na íntegra

 

 

Referências

MANNHEIM, Karl. O pensamento conservador. In: MARTINS, José de S. (Org.). Introdução crítica à sociologia rural. São Paulo: Hucitec, 1981, p.77-131.

MANNHEIM, Karl. El problema de las generaciones. REIS - Revista Española de Investigaciones Sociológicas, Madrid, n.62, p.193-242, abr./jun. 1993

 

ATENÇÃO – O conteúdo dos artigos é de responsabilidade do autor, expressa sua opinião sobre assuntos atuais e não representa a visão da Universidade de Brasília. As informações, as fotos e os textos podem ser usados e reproduzidos, integral ou parcialmente, desde que a fonte seja devidamente citada e que não haja alteração de sentido em seu conteúdo.