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OPINIÃO

Isaac Roitman é doutor em Microbiologia, professor emérito da Universidade de Brasília e membro titular de Academia Brasileira de Ciências.

Isaac Roitman

 

Na história da humanidade, lideranças em áreas específicas influenciaram de forma definitiva a sua evolução. Podemos citar alguns exemplos, em ordem alfabética: Albert Einstein, Anísio Teixeira, David Ben-Gurion, Darcy Ribeiro, Fidel Castro, George Washington, Juscelino Kubitschek, Madre Teresa de Calcutá, Mahatma Gandhi, Martin Luther King, Maximilien de Robespierri, Napoleão Bonaparte, Nelson Mandela, Nicolau Copérnico, Sigmund Freud, Oswaldo Cruz, Santos Dumont, Simon Bolivar, Theodore Roosevelt Jr, e Winston Churchill.

 

Se analisarmos a humanidade no presente, vamos chegar à conclusão de que estamos em retrocesso. Presenciamos um verdadeiro circo de horrores – atentados, assassinatos, imigrações induzidas, guerras, crianças morrendo por desnutrição, destruição de nosso meio ambiente e outras mazelas do nosso, assim chamado, mundo civilizado. No Brasil, convivemos com uma escandalosa injustiça social e uma corrupção explícita, onde até a vergonha foi jogada pelo ralo. Vivenciamos uma crise de valores morais e culturais, e uma escassez de líderes dispostos a superar esse momento delicado e trágico. É preciso destacar e exaltar a importância vital do surgimento de lideranças autênticas e genuínas para a construção de um novo tempo, que nos faça sair da senda da desgraça a que hoje nos submetemos.

 

Nossas lideranças, em sua maioria, não estão à altura para superarmos as crises que vivemos. Focadas nos interesses pessoais ou de grupos, não titubeiam diante das repercussões inadequadas de suas ações. Muitas delas ganham poder. Uma pergunta então emerge: O poder corrompe? O poder é, ou deveria ser, um instrumento para o bem comum. Assim, as pessoas investidas no poder devem ser honestas e de caráter firme para não se deixarem corromper nem promoverem a corrupção. A corrupção e a desonestidade não rondam apenas os escalões mais elevados do poder. Na atual conjuntura brasileira, o cidadão se vê desprotegido, violentado e lesado nos seus direitos, ameaçado por quem o deveria proteger. O mau exemplo das autoridades é corrosivo e induz à corrupção.

 

A liderança é talento que precisa ser identificado e desenvolvido. Howard Gardner define talento "por um arranjo complexo de aptidões ou inteligências, habilidades instruídas e conhecimento, disposições de atitudes de motivações que predispõem um indivíduo a sucessos em uma ocupação, vocação, profissão, arte ou negócio". Segundo a Organização Mundial de Saúde, cerca de 4% das crianças e jovens apresentam altas habilidades gerais ou específicas. No Brasil não é fácil a identificação de crianças e dos jovens com talento de liderança, pois a educação brasileira é feita com um tratamento homogêneo dos estudantes, sem reconhecer a diversidade entre eles. Em adição, as políticas para a identificação e o desenvolvimento de talentos no Brasil são incipientes. Especialistas no campo da educação de talentos apontam que a identificação precoce do talento é importante. De maneira geral, as escolas não dispõem de recursos e não têm corpo docente, adequadamente, preparado para prover os desafios acadêmicos, sociais e emocionais para proporcionar o desenvolvimento das lideranças.

 

Quatro dimensões são consideradas importantes para aferir o potencial de liderança: o autodesenvolvimento, a habilidade no relacionamento interpessoal, a visão sistêmica e o senso crítico e a responsabilidade. Essas características se manifestam e podem ser percebidas nos primeiros anos de vida, e devem ser desenvolvidas no ambiente escolar. A tendência da aprendizagem, baseada na discussão de temas e na resolução de problemas, pode ser considerada como um cenário adequado para o exercício do pensar e da crítica argumentativa. Uma correta visão de um mundo civilizado e o estímulo ao conhecimento geral seriam pré-requisitos para a formação de nossos futuros líderes. Um ambiente de total liberdade de diálogo e de expressão de pensamentos é absolutamente fundamental para o estímulo na formação de lideranças. Romper com a falsa verdade de que alguém é o dono das verdades e diminuir a importância do próprio "eu" também devem fazer parte de um ambiente para a formação de novas lideranças que nos conduzam a um novo Brasil, sem desigualdades sociais, onde todos os brasileiros e brasileiras possam realizar os seus sonhos.

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Artigo publicado originalmente no Correio Braziliense em 14/10/19

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