OPINIÃO

Ana Suelly Arruda Câmara Cabral é professora do Departamento de Lingüística, Português e Línguas Clássicas da Universidade de Brasília. Graduada em Letras pela Universidade Regional do Nordeste, graduada em Artes Plásticas e mestre em Letras e Estética da Arte pela Université de Paris, doutora em Linguística pela Universidade de Pittsburgh.

Rozana Reigota Naves é professora e diretora do Instituto de Letras da Universidade de Brasília. Graduada em Letras pela Universidade Católica de Brasília, mestre e doutora em Linguística pela UnB.

 

 

Ana Suelly Cabral e Rozana Naves

 

"Ore ava PPGL LALLI pegwa rowy’a pelu hare pe mombarete Aty Gwasu oikotawa UnB Brasiliape. Agwyje Nova Zelândia!" ( Nós Indígenas do PPGL do LALLI estamos felizes pela vinda de vocês e por fortalecerem o grande Congresso que acontecerá na UnB, em Brasília. Obrigada, Nova Zelândia!). Assim a indígena Kaiowá, Rosileide Barbosa de Carvalho, doutoranda em linguística na Universidade de Brasília (UnB), agradeceu a visita da delegação da Embaixada da Nova Zelândia, no último dia 12 de julho de 2019.

 

A delegação, que contou com a presença dos senhores prof. dr. Darryn Russell, Pró-Reitor para Temas Māori (Universidade de Canterbury), profa. dra. Sarah-Jane Tiakiwi, pró-reitora adjunta para Temas Māori (Universidade de Waikato), sra. Fiona Johnson-Bell, gerente senior de educação superior Maori (Universidades Nova Zelândia), Sheree Moanaroa, gerente senior para engajamento internacional (Universidades Nova Zelândia), e Craig Nicholson, diretor adjunto do Centro de Excelência para América Latina e Ásia Pacífico – CAPE, foi recebida pelo chefe do gabinete da Reitoria, prof. dr. Paulo César Marques, para uma reunião com a diretora do Instituto de Letras, profa. Rozana Reigota Naves, e com a coordenadora do Laboratório de Línguas e Literaturas Indígenas da UnB, profa. Ana Suelly Arruda Câmara Cabral, a fim de tratar da cooperação para a realização do II Congresso Internacional sobre Revitalização de Línguas Indígenas e Minorizadas (II CIRLIN - https://www.cirlin.com/).

 

Delegação se reuniu no Salão de Atos da UnB para tratar da cooperação para realização do II CIRLIN. Foto: Raquel Aviani/Secom UnB

 

O Congresso, que ocorrerá de 1 a 4 de outubro de 2019, está associado ao I Encontro Nacional sobre Diversidade Linguística Indígena, que também terá lugar na UnB, de 4 a 6 de outubro do mesmo ano. Os dois eventos, reconhecidos pela UNESCO, como uma das celebrações, no mundo, do ano dedicado as línguas indígenas, é fruto de uma parceria entre a Universidade de Brasília, o Instituto de Patrimônio Artístico e Histórico Nacional (IPHAN), a Embaixada da Nova Zelândia, a Faculdade Intercultural Indígena (UNEMAT) e a Universidade Federal de Rondônia (UNIR -Campus Ji-Paraná).

 

Nada mais natural, que o evento, cuja primeira edição aconteceu em 2018, na cidade de Barcelona (Espanha), fosse trazido para o Brasil, país da América Latina que apresenta a maior diversidade linguística, com aproximadamente 200 línguas nativas e 20 línguas de imigrantes. Mais natural, ainda, que se realizasse na Universidade de Brasília, que, desde a sua criação, demonstrou a vocação pelo estudo e pela pesquisa das línguas e culturas dos povos indígenas do Brasil, desenvolvida no então Centro de Estudos das Culturas e Línguas Indígenas (CECLI), tendo Aryon Dall’Igna Rodrigues como coordenador. O CECLI, extinto durante as duas décadas em que a UnB foi administrada por interventores politicamente orientados pelo regime militar, renasceu em 1999, com a criação do Laboratório de Línguas e Literaturas Indígenas (LALLI), pela iniciativa do grande mestre e doutor honoris causa da UnB, já falecido, Aryon Dall’Igna Rodrigues.

 

O II Congresso Internacional sobre Revitalização de Línguas Indígenas e Minorizadas (II CIRLIN - https://www.cirlin.com/) e o I Encontro Nacional sobre Diversidade Linguística Indígena têm o objetivo de promover a troca de saberes e de experiências entre pesquisadores e comunidades indígenas, sobretudo no campo da revitalização e fortalecimento das línguas indígenas em geral e das estratégias de salvaguarda dessa diversidade, oferecendo aos participantes a oportunidade de compartilhar seus múltiplos modos de ser, ver, conhecer e aprender.

 

Um tema tão local e, ao mesmo tempo, tão global propiciou a intensificação do diálogo acadêmico com a Embaixada da Nova Zelândia, país também constituído por uma grande população autóctone. Tanto assim que parte da delegação neozelandesa que visitou a UnB fez questão de apresentar-se aos brasileiros em sua língua ancestral, o Maori, e representantes do povo Maori participarão do importante evento de outubro. Os representantes da UnB, assim como os representantes da Nova Zelândia, ressaltaram, na reunião que ocorreu no Salão de Atos da UnB, a preocupação, não apenas com o fortalecimento das línguas e culturas indígenas e minorizadas do mundo, mas também com temas como territorialidade, sustentabilidade e educação, indissociáveis da preservação e fortalecimento dos povos indígenas.

 

Isso tudo é prova da vitalidade e do papel que têm as Universidades no desenvolvimento social e na preservação da diversidade étnica, linguística e cultural no mundo. É prova, ainda, de que a internacionalização deve ser pensada estrategicamente como algo que transcende o eixo tradicional de produção e circulação do conhecimento, devendo necessariamente se ampliar para outras possibilidades de cooperação, de que é exemplo essa parceria com a Nova Zelândia, a qual fortifica as nossas relações Sul-Sul e dá luz a temas nem sempre contemplados pelas políticas de financiamento.

 

Estamos seguras de que será uma colaboração frutífera e de que os resultados, gravados na história da nossa Instituição, serão lembrados pelas gerações futuras de indígenas e não indígenas como mais uma ação no estabelecimento do marco civilizatório que é reconhecer e valorizar a diversidade étnica, linguística e cultural em um espectro continental.

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