OPINIÃO

Paulo Câmara é professor do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Brasília e coordena o projeto de pesquisa Evolução e dispersão de espécies antárticas bipolares de briófitas e liquens no âmbito do Programa Antártico Brasileiro (Proantar). É doutor em Botânica pela University of Missouri-Saint Louis e  Missouri Botanical Garden. 

Paulo Câmara

 

Com mais de 14 milhões de km² e com a maior reserva de água doce do mundo, além de riquezas intocadas, a Antártica é um continente totalmente devotado à paz e à ciência. Apenas 29 países, que são signatários do Tratado Antártico, possuem direito a voz, voto e veto nas decisões do continente gelado. O Brasil é um deles. Anualmente essas nações se encontram na Reunião Consultiva do Tratado Antártico (Antarctic Treaty Consultative Meeting - ATCM) para decidir o destino dessa porção do globo. Este ano o encontro acontece em Praga, na República Tcheca, entre 8 e 12 de julho.

 

Como pesquisador antártico, fui convidado a me juntar à delegação brasileira, que soma seis representantes, com autoridades do Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty), do Ministério do Meio Ambiente e da Marinha do Brasil. Minha contribuição ao longo de seis anos como pesquisador do Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR) tem sido dedicada à vegetação antártica. Neste encontro, entretanto, estou incumbido da função de delegado convidado e como único cientista assessor, cabendo a mim assessorar os demais delegados nas mais diversas áreas do conhecimento científico a fim de garantir os avanços dos interesses do Brasil no que diz respeito à ciência no continente gelado.

 

A presença de uma delegação brasileira é importantíssima para manutenção do status de membro consultivo do tratado e para defender os interesses do Brasil na Antártica. Neste ano a agenda ambiental trata de diversos temas, entre eles do problema dos plásticos, do aumento do número de turistas na região e do aquecimento global. Também pode-se notar o interesse e o carinho de outros países na inauguração da nova estação antártica brasileira, prevista para janeiro do próximo ano, que substituirá a que foi destruída pelo incêndio em 2012.

 

Diversas possibilidades de cooperação tanto na parte logística como na científica estão sendo discutidas. O compartilhamento de logística (vagas em voos, em navios e em outras bases) são cada vez mais comuns nas operações antárticas e visam diminuir os custos e aproximam os países membros. Na parte científica, igualmente ocorre o compartilhamento de dados. Esse ano algumas possibilidades interessantes de financiamentos pela União Européia foram apresentadas.

 

O clima é de muita cordialidade, cooperação e engajamento entre os países membros. Observa-se, no entanto, que o tema antártico está na lista de prioridades de vários outros governos, enquanto ainda ocupa uma agenda muito tímida no cenário político brasileiro, o que reflete em uma participação também tímida do Brasil nos temas debatidos.

 

É fundamental que o Brasil mantenha sua presença nas reuniões da ATCM, bem como aumente os investimentos tanto em logística como em ciência antártica a fim de podermos nos posicionar melhor no cenário geopolítico mundial, refletido nessas reuniões.

 

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