OPINIÃO

Bárbara Medeiros é doutora e mestra em Administração pela UnB com foco em diversidade, gênero e sexualidade. É administradora, pedagoga, professora, pesquisadora, palestrante e mentora acadêmica e empresarial (T&D, D&I, GP e ESG).

 

Bárbara Medeiros¹

 

No mundo, o dia 17 de maio é símbolo de conquista e luta no combate à LGBTfobia. No ano de 1990, a Organização Mundial da Saúde (OMS) retirou a homossexualidade da sua Classificação Internacional de Doenças (CID). Isso quer dizer que a homossexualidade deixou de ser entendida como doença – transtorno metal. Essa data tornou-se então, um marco no combate à LGBTfobia. No Brasil, a data é celebrada e foi instituída por decreto presidencial em 04 de junho de 2010.

 

Essa vitória é mais uma em face do ativismo LGBT dos últimos 50 anos de uma luta, histórica e política, marcada por conquistas diversas, como o casamento legalizado entre pessoas do mesmo sexo, a adoção por pessoas do mesmo sexo, a visibilidade LGBT em uma dimensão social, organizacional e política, entre outras no cenário brasileiro.

 

Por outro lado, ainda permanece a LGBTfobia por meio de ações e discursos homofóbicos, bisofóbicos e transfóbicos. Há violência de toda ordem, física, simbólica, silenciosa, discurso de ódio, aversão ao outro e até mesmo no cenário político brasileiro. Não se pode deixar de falar de estados nos quais ainda existe hoje a pena de morte, por constituir crime as demonstrações afetivas homossexuais que não se enquadram na heteronorma. Isso é expressão de que não basta apenas estabelecer decretos e políticas para afirmarem a diversidade sexual. Essas políticas inclusive não são fixas e podem mudar com a passagem dos governantes no poder.

 

Qual será a solução? Ora, sempre haverá LGBTfobia. Esse pensamento não é pessimista e nem cético. É muito difícil mudar o mundo sim! Por outro lado, ações micro podem reverberar de modo positivo entre diferentes povos e nações. E qual é o caminho para ações micro? Levantar a bandeira da educação, libertadora e transformadora. Ela é essencial para mudar toda uma cultura, um saber arraigado, não advindo dos mestres do saber, mas se assim posso dizer, dos contramestres. Termo utilizado para designar um profissional do marinha encarregado de coordenar todo o trabalho dos marinheiros. Expressão utilizada para designar também postos de sargento. Aproprio-me desse termo, para expressar o quanto o discurso sexual e de gênero é controlado sob pressupostos da moral e dos bons costumes familiares, sendo comandado, ordenado e coordenado por meio de normas binárias e heterossexuais, excludentes de todas as outras formas de fazer-se sujeito.

 

É nesse sentido que amor e respeito, são preciosidades em tempos de combate à LGBTfobia. Estima social, esse desejo de ser amado o tempo inteiro pelo outro faz parte da nossa vivência – nos afirmamos a partir do olhar do outro. Não digo sobre aquele olhar que isola e abandona o outro, mas aquele olhar que reconhece o outro e pode até abandoná-lo, mas sem isolá-lo, ou seja, abandona para libertá-lo a fim deste outro autoafirmar-se e autodeterminar-se, ou seja, fazer-se sujeito. Isso pode ser entendido como uma foma madura de respeito e amor, expressão do silêncio do amor para emancipação do outro, que não deve desejar e se expressar do mesmo modo como eu desejo e me expresso, mas diferente de mim, por seu desejo e expressão serem particularidades do seu ser – do seu existir, se fazer e se constituir.

 

Esse é o empenho que devemos nos esforçar e assim criarmos vínculos de solidariedade com o outro – diferente de mim em tudo, muito além da sua orientação sexual e expressão de gênero. O respeito e o amor nos aproxima de um afeto poderoso, a alegria. A alegria de estar com o outro que compreende e afirma a diferença em tempos tão sombrios como os que estamos vivendo. É por isso que é preciso multiplicar as vozes da alteridade. Mais silêncio do amor por favor!

 

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¹Doutoranda em Administração e professora voluntária da disciplina Diversidade nas Organizações no curso de Administração da Universidade de Brasília. É pesquisadora do Centro de Cultura e Estudos LGBT no ambiente de trabalho e do Núcleo de Diversidade e Crítica Organizacional (ambos FACE/UnB).

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