OPINIÃO

David Duarte Lima é professor da Área de Medicina Social, da Faculdade de Medicina, da Universidade de Brasília. Graduado em Estatística pela UnB, mestre em Santé Publique - Université Catholique de Louvain e doutor em Doctorat en Santé Publique, concentração em Segurança de Trânsito - Université Libre de Bruxelles. É presidente do Instituto de Segurança no Trânsito (IST). Tem experiência na área de Saúde Pública, atuando nos temas: acidente de trânsito, trânsito, mortalidade, segurança de trânsito e violência. Ministra as disciplinas de Estatística em diversos níveis e Epidemiologia dos Acidentes de Trânsito

David Duarte Lima1


Em 1974, passei no vestibular para cursar estatística na Universidade de Brasília. Concluí o curso em dezembro de 1978. Foram anos de aprendizado de cálculo, probabilidade, análise de dados, métodos científicos. Foram também anos de aprendizado de atividade política, de protestos, de reivindicações. Tempo em que aprendi o instrumental profissional e a importância da participação nos destinos do país.

 

Naqueles anos, queríamos derrubar o reitor, mudar o Brasil, transformar o mundo. Os jovens desconhecem limites, afrontam o poder, mas também alargam horizontes. Jovens são mais sensíveis, têm a esperança exacerbada. Tudo é pletórico, exuberante. Essa audácia faz o mundo avançar. Veja um filme dos anos 1950, observe como as pessoas se vestiam, como se comportavam. Os Beatles, os protestos políticos transformaram tudo. São os jovens que constroem o amanhã.

 

As universidades públicas são o motor das mudanças, por isso frequentemente incompreendidas. No Brasil, sobressaem cenas de estudantes com a pele à mostra em passeatas de intenções questionáveis. Parece que não se empenham como deveriam nos estudos. Em todos os lugares há pessoas que trabalham mais que outras e também as que julgamos ter comportamentos inadequados. Paciência, assim é o mundo.

 

No entanto, nesse ambiente de diversidade, pode-se aprender a entender e respeitar o diferente, a melhorar como ser humano. Algumas pessoas malucas terminam mudando muita coisa, como Steve Jobs, que dedicava seu tempo na universidade Reed College, em Portland, a atividades nada convencionais. Estudou seis meses e abandonou o curso. Algum tempo depois fundou uma das maiores empresas do mundo, que mudou radicalmente nosso cotidiano.

 

As universidades públicas do Brasil têm muitas deficiências. Sem dúvida há recursos mal-empregados, desperdícios, ineficiências. Há alunos “malucos”. Alguns professores deixam a desejar. Essa faceta é exageradamente explorada.

 

Mas você já parou para pensar no serviço que a UnB presta a Brasília e ao Brasil? Quantos engenheiros se formaram ali? Quantos advogados? Quantos filósofos, sociólogos, psicólogos que nos ajudam a pensar sobre os problemas da nossa sociedade? Quantas vidas já foram salvas por médicos e enfermeiros formados na UnB? Quantos alunos se formaram e progrediram na vida pelas mãos de professores formados na UnB? Quantos arquitetos e artistas embelezam nossas casas e nossa cidade?

 

Você já parou para pensar o quanto a universidade nos ajuda a viver melhor? A UnB está na sua casa, nas nossas ruas, na saúde, nos alimentos que consumimos, no seu conforto. Pare e observe como a universidade está no seu dia a dia.

 

A UnB sediou o Fórum pela Paz no Trânsito, do qual faziam parte mais de 80 instituições. Sindicatos patronais e de trabalhadores, igrejas, imprensa, órgãos do governo local, acadêmicos nos reuníamos para discutir como melhorar o trânsito. Como coordenador do Fórum, lembro-me da reunião em que o ousado coronel Azevedo apresentou a maluquice de implantação do respeito à faixa de pedestres. Hoje, todos nos orgulhamos daquela loucura.

 

Como hoje, quando eu era estudante havia também os diferentes. É bom que haja diversidade, mesmo que isso desagrade a muitos. O mundo é diverso. É bom que saibamos também que a UnB não é uma universidade exclusiva de estudantes ricos. A maioria dos meus colegas vinha de família de recursos modestos, muitos eram pobres.

 

Tenho inúmeros exemplos de estudantes daquela época que hoje são excelentes profissionais. A universidade foi determinante na vida deles, e a sociedade muito se beneficiou com seu sucesso profissional. Hoje a UnB continua uma escola que propicia a evolução para muitos jovens que sonham com um futuro melhor.

 

Os desafios são grandes neste mundo que evolui numa velocidade cada vez maior. Um tropeço, e ficamos para trás. Nossas universidades precisam melhorar muito na eficiência da administração, na aplicação dos recursos, na integração com a sociedade. Porém, a UnB vem cumprindo papel de destaque na formação dos jovens, em preparar um futuro melhor para eles e para o Brasil. O que nossa universidade já proporcionou a Brasília e ao Brasil é muito maior que as deficiências.

 

Tenho orgulho de ser professor da universidade onde me graduei. A UnB tem muita gente séria, professores dedicados, alunos estudiosos e pesquisadores de alto nível. Nossos alunos vão ajudar o Brasil a ser melhor. Visite a UnB, você vai ver que na diversidade há muita universidade.

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1Professor da Área de Medicina Social, da Faculdade de Medicina, da Universidade de Brasília. Graduado em Estatística pela UnB, mestre em Santé Publique – Université Catholique de Louvain e doutor em Doctorat en Santé Publique, concentração em Segurança de Trânsito – Université Libre de Bruxelles. É presidente do Instituto de Segurança no Trânsito (IST). Tem experiência na área de Saúde Pública, atuando nos temas: acidente de trânsito, trânsito, mortalidade, segurança de trânsito e violência. Ministra as disciplinas de Estatística em diversos níveis e Epidemiologia dos Acidentes de Trânsito.

 

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