OPINIÃO

Fernando Mascarenhas é professor e diretor da Faculdade de Educação Física da Universidade de Brasília.

Fernando Mascarenhas¹

 

 

Ainda que seja complexo definir um percentual de praticantes de atividades físicas e esportivas no Brasil, é possível dizer que é baixo, em torno de 30%, conforme o Relatório Nacional de Desenvolvimento Humano 2017. Mas o que explica tão baixa adesão?

 

Três condições são entendidas como centrais: o tempo livre disponível, a necessidade de condições materiais e financeiras e o valor de ser ativo relacionado às dinâmicas culturais locais. Isto quer dizer que a prática esportiva não se restringe somente a uma decisão individual, mas é também produto de como a sociedade pauta a vida coletiva.

 

O percentual de praticantes varia ainda de acordo com as desigualdades em termos de situação econômica, raça, gênero, nível de instrução etc. Características como ser idoso, mulher, negro, de baixo nível socioeconômico ou baixo grau de instrução estão frequentemente vinculadas a um nível mais baixo de prática.

 

Ao pensarmos o contexto da universidade, um dado chama atenção. É entre os 16 e 24 anos que se verifica o maior abandono ou interrupção da prática de esportes, seja pela entrada no mundo de trabalho, constituição de um novo núcleo familiar ou ingresso no ensino superior. Sim, a universidade com suas exigências, responsabilizações e obrigações também contribui para afastar nossa juventude dos esportes!

 

A atividade física e o esporte têm um reconhecido valor educativo, contribuindo com a promoção da saúde, qualidade de vida e desenvolvimento humano. Constituem uma prática das mais privilegiadas para fruição e exercício dos sentidos e das emoções, favorável à criação, ao engajamento corporal, ao prazer do movimento, ao exercício da confiança, ao desafio do pensamento, à construção da autoestima, enfim, à satisfação de acesso e apropriação da cultura.

 

Acreditamos que a oferta das práticas que envolvem a atividade física e o esporte potencializa o acolhimento e integração de nossos estudantes. Com efeito, não só a prática tradicional do esporte, com suas modalidades e disciplinas olímpicas e não olímpicas, mas também a caminhada, a corrida de rua, o andar de bicicleta, a ginástica, os exercícios na academia, a dança, a capoeira, as lutas, as atividades circenses, os chamados novos esportes, todo o universo de práticas que envolve e define as atividades físicas e esportivas merece atenção da universidade.

 

Os motivos que afastam o estudante da UnB do esporte seguem a tendência geral: falta tempo, dinheiro ou vontade. Daí a importância de valorizarmos nosso Centro Olímpico como um equipamento esportivo público e acessível que a quase cinco décadas vem contribuindo com o desenvolvimento da universidade, distribuindo oportunidades para que indivíduos e coletividades incorporem a atividade física e o esporte ao seu modo de vida.

 

Não podemos descuidar do esporte de representação, tradicionalmente organizado em torno de um enorme leque de competições internas e dos Jogos Universitários Brasileiros. Neste particular, ano a ano a UnB vem sendo premiada com Troféu Eficiência da CBDU. Mas os serviços ofertados pelo CO operam com uma noção ampliada de esporte. Essa visão alargada permite pensar as atividades físicas e esportivas vivenciadas no lazer não só pelos estudantes, mas por toda a UnB, além de valorizar as atividades de extensão universitária que têm prestado um importante papel junto a segmentos da comunidade externa – idosos, diabéticos, obesos, cardiopatas, pessoas com deficiência, entre outros.

 

O que estamos querendo dizer é que o esporte e a atividade física em geral devem fazer parte de uma política integrada da vida estudantil, bem como compor estratégias e ações de promoção da saúde e qualidade de vida dos servidores. Nesse sentido, convidamos nossa comunidade a refletir e debater o papel de um equipamento esportivo do porte que possuímos. A responsabilidade pela situação atual do Centro Olímpico e pelo que se pretende para o seu futuro deve ser compartilhada.

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¹Professor e Diretor da Faculdade de Educação Física da Universidade de Brasília.

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