OPINIÃO

Thaïs de Mendonça Jorge é professora do Departamento de Jornalismo (FAC) e foi Secretária de Comunicação da Universidade de Brasília (UnB).

Thaïs de Mendonça Jorge¹

 

Durante a cobertura do desastre de Brumadinho, uma figura chamou a atenção: o tenente do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, Pedro Aihara. Com apenas 25 anos, este ex-estudante do Colégio Militar de Belo Horizonte e da Escola de Cadetes do Ar assumiu como porta-voz da corporação, despertando respeito, elogios e admiração de quem acompanhava o noticiário. Num dia, ele chegava a dar cinco entrevistas coletivas, sem contar as de TV e de rádio. Não se negava a conversar com nenhum jornalista e atendia a todos com segurança e tranquilidade.

 

A postura e o profissionalismo de Aihara fizeram com que aparecesse até no programa de Ana Maria Braga, e houve uma ocasião em que as pessoas faziam fila para tirar uma selfie com ele. Com tudo isso, seu número de seguidores no Instagram saltou de 3 mil para 145 mil. “Foi uma ocorrência difícil pela característica de ter crianças, afeta muito a gente o fato de presenciar de perto o sofrimento de todas essas famílias, especialmente das mães. Por mais que se esteja preparado para lidar com isso, é uma coisa que toca nosso coração”, disse ao site G1.

 

Formado em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com cursos de gestão de projetos na Universidade de São Paulo (USP) e especialização em prevenção de desastres pela Universidade de Yamaguchi (Japão), o tenente Aihara trabalhou nos bastidores da tragédia em Mariana e do incêndio na creche de Janaúba, mas é a primeira vez que assume como protagonista de um episódio. Protagonista porque o papel de porta-voz significa estar a postos quase 24 horas por dia, atuar diante das câmeras, responder a perguntas difíceis e manter os nervos controlados diante de acontecimentos fatais. Aihara tinha plena consciência de sua função:

 

 – Quando se fala em vidas humanas, se há uma informação errada isso pode impactar negativamente na vida da família. Eu tenho noção dessa responsabilidade. É uma operação complicada, porque são muitas agências envolvidas. São inúmeros os dados que chegam e é preciso verificá-los diante das demandas.

 

A figura do porta-voz, que existe no Brasil desde o século XIX, é representativa da importância da comunicação clara, objetiva e visando o interesse público, em situações que envolvem temas sensíveis para a população. Se, olhando de fora, ele é a pessoa encarregada de um duplo papel – o de noticiar e o de comunicar – necessita de informações precisas e da confiança de todos os agentes nesse cenário. São duas tarefas diferentes, principalmente nesse caso, porque comunicar quer dizer levar fatos ao conhecimento do público; e noticiar significa coletar, selecionar e transmitir informações que sejam noticiáveis, ou seja, sirvam aos jornalistas que as transformarão em notícia. A comunicação pública marca e demarca as diferenças e identidades entre o direito à informação e a responsabilidade de difundir dados corretos de interesse público.

 

Para Maria Eduarda Gonçalves, investigadora que realizou estudos sobre o caso de Foz Coa, em Portugal, o trabalho de pesquisa em comunicação voltado a barragens constitui um “laboratório de análise política”, por causa da variedade de temas e atores sociais com interesses em disputa. Essa comunicação, como frisa Carlos Locatelli, “nasce pública” no Brasil porque – tal como acontece com as hidrelétricas – a mineração é uma concessão legal e o detentor da concessão, em tese, deve implantar um programa de comunicação para informar a população atingida.

 

"Muitas vezes nós somos as pessoas mais importantes no dia mais difícil da vida de alguém", admite o tenente Pedro Aihara, com a singeleza de quem abraçou a ideologia dos Bombeiros a partir de 2012. Filho de japonês com brasileira, ele é conhecido na corporação pelo apelido com que se nomeiam os asiáticos no país: Japa. Japa e os bombeiros não precisariam estar em Brumadinho se a Vale tivesse levado a sério a comunicação pública.

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¹Professora da Faculdade de Comunicação e Secretária de Comunicação da Universidade de Brasília.

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