OPINIÃO

Enrique Roberto Argañaraz é professor do Departamento de Farmácia da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Brasília. Doutor pela UnB em Imunologia e Genética Aplicadas.

Enrique Roberto Argañaraz

 

Um dos principais objetivos de vida e comum a todos os seres humanos, independente de nacionalidade, raça, idade, religião etc. é a chamada “Felicidade”. Entretanto, as perguntas que surgem inevitavelmente ao abordar esse assunto são: por que cada ser humano imagina sua felicidade de uma forma particular? A felicidade é só para alguns? Se todos queremos ser felizes porque não somos e sofremos?

 

Dessa forma, para abordar o assunto felicidade, se faz necessário falar também do sofrimento e suas causas. Quando as condições externas não estão de acordo com nosso “modelo de felicidade”, logo estamos infelizes! Já quando conseguimos adequar as circunstâncias externas ao nosso modelo, “achamos” que estamos felizes! Assim, vivemos numa “gangorra”, alternando felicidade e sofrimento.

 

Como se não bastasse, a tão desejada felicidade, quando alcançada, se esvanece num piscar de olhos, como demonstrado por estudos realizados pelo professor Dan Gilbert, do Departamento de Psicologia da Universidade de Harvard. Nos estudos do Dr. Gilbert, foi possível mensurar o real impacto dos mais diversos acontecimentos, desde os mais felizes até os mais trágicos, na vida e na felicidade das pessoas. Surpreendentemente, os resultados mostraram que, independentemente da natureza dos mesmos, o impacto de tais acontecimentos não ia além de 6 meses e, após 3 a 4 dias, tinham perdido grande parte de seu impacto.

 

Poderíamos dizer que a chamada felicidade não dura mais do que “uma gota de orvalho numa folha de grama”. Certamente, essa maneira de viver, valorizada, incentivada e seguida, por séculos e séculos pela humanidade, apresenta falhas profundas e é a causa primária de diferentes desordens comportamentais, muito comuns nestes dias, tais como depressão, ansiedade e até o suicídio. Dessa forma, a felicidade como meta, é frívola e irrealista – frívola, porque a felicidade é um estado transitório que depende de diversas condições externas; e irreal, pois a vida é imprevisível, já que a dor pode surgir a qualquer momento.

 

Sendo assim, estaríamos condenados a viver reféns das circunstâncias externas, sobre as quais não temos controle algum? Ou tem alguma alternativa? Na procura desse outro modelo, uma pergunta que se impõe é: quais são as principais causas do sofrimento humano? Para responder essa e outras questões, se torna prioritário acessar o conhecimento contido em tradições antigas como budismo, hinduísmo, sufismo, entre outras, onde estas questões foram estudadas por séculos e caminhos para as respostas das mesmas sinalizados.

 

Todas essas tradições apontam a “mente” como o fator determinante para nossos estados de felicidade e infelicidade. Por que seria a mente? Porque dependendo de como a mente reage, vivencia e percebe a “realidade” é que ela gera felicidade ou sofrimento. Segundo o budismo, o sofrimento é causado por uma mente “ignorante”, entendendo-se por mente ignorante aquela que não percebe a realidade como ela é, “impermanente, insatisfatória e insubstancial”.

 

De fato, a mente nos leva a ver e julgar o presente com os “olhos do passado” de acordo a nossas crenças, dogmas e modelos de felicidade, manifestando-se como uma “voz” que especula, julga, compara, gosta, desgosta..., e até como “filmes” ou “diálogos internos”. Diante deste quadro, será que existe uma felicidade verdadeira, diferente? Que não dependa das circunstâncias? Que possamos cultivar do nada, por assim dizer? A resposta para estas perguntas é um contundente SIM.

 

Uma sinalização do caminho a seguir pode ser obtida a partir da frase do Prêmio Nobel de Literatura Herman Hesse: ”Só há felicidade quando não exigimos nada do amanhã e aceitamos do hoje, com gratidão, o que nos trouxer. A hora mágica chega sempre”. Assim, a chave está em nos tornarmos conscientes que o único tempo que realmente existe é o presente, e sermos gratos por isto. Isso quer dizer que podemos ser gratos por tudo? Sim, até pelas experiências dolorosas, já que em toda situação negativa, há sempre uma lição embutida.

 

Aliás todas as circunstâncias são positivas, ou melhor, não são positivas nem negativas, são do jeito que são! A vida é dura, mas quando realmente se aceita o que está acontecendo, mesmo que seja muito difícil ou doloroso, surge uma felicidade, melhor, uma “alegria” imensurável que vem apenas de experimentar completamente o que surge, sem separação entre nós e a experiência, e é nesse momento que “a hora mágica chega” e os problemas desaparecem. Em resumo, só conseguindo viver no presente, sem permitir a intromissão do tempo (passado – futuro) e consequentemente da mente, perceberemos a beleza nele contida e o que é melhor, não haverá dor e sim Alegria!

 

O segredo é não correr atrás das borboletas.. é cuidar do jardim para que elas venham até você”

Mário Quintana

 

Obs: Esse, entre outros temas, será abordado na disciplina “Ciência Além da Ciência” na Faculdade de Ciências da Saúde (FS)

 

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