OPINIÃO

José Alberto Vivas Veloso é professor aposentado da Universidade de Brasília e criador do Observatório Sismológico (SIS), da mesma universidade. Graduado em Geologia, mestre em Geofísica pela Universidad Nacional Autónoma de México, estudou Sismologia no International Institute of Seismology and Earthquake Engineering, no Japão. Trabalhou na Organização das Nações Unidas, em Viena (Áustria), na montagem de uma rede mundial de detecção de explosões nucleares. É autor do livro O terremoto que mexeu com o Brasil.

Alberto Veloso

 

Acompanhamos pela mídia os recentes desastres nas América do Norte e no Caribe englobando mortes e destruições em larga escala: um terremoto de magnitude 8.2 no sul do México e um tufão iniciado no Atlântico, crescido no Caribe e agora caminhando com menos força pelo sul dos Estados Unidos. No seu auge atingiu categoria 5, a maior intensidade na classificação existente. Terremotos e tufões são fenômenos historicamente presentes nas regiões citadas e também costumeiros causadores de grandes desastres. No entanto, não podem ser entendidos e tratados da mesma forma, pois são distintos na origem e no modo de ocorrência. Fundamentalmente, terremotos não podem ser prognosticados, tufões sim, o que faz a diferença, pois há tempo para agir.

 

Ao predizer o nascimento, o crescimento, a intensidade e a trajetória de um tufão a ciência e a tecnologia dão enorme contribuição à sociedade. Mesmo se edificações, objetos e infraestruturas forem destruídos, vidas serão preservadas, pois há tempo de acomodar moradores das áreas alvo em locais seguros. Somente na Flórida, fala-se na retirada de mais de seis milhões de pessoas, o equivalente a duas vezes a população de nosso Distrito Federal. Isso foi feito porque há recursos financeiros, sistemas de defesa civil atuantes e população treinada para enfrentar situações perigosas. Mas, se olharmos para nações do Caribe, o resultado é distinto, porque quase nada do anterior existe, ou funciona a contento.

 

Acostumados com o progresso da ciência, torna-se difícil explicar por que ainda não se pode prever terremotos. Um dos vários problemas é que eles ocorrem a dezenas de quilômetros de profundidade, locais inacessíveis a medidas diretas sobre o nível de tensões nas falhas geológicas e nas propriedades mecânicas das rochas. Parece que o homem conhece menos o que está abaixo de seus pés do que do outro lado do Sol. Ele já trouxe amostras da Lua e enviou naves para investigar a superfície de outros planetas, a milhões de quilômetros daqui. No entanto, o máximo que conseguiu obter de real, trabalhando por 24 anos, foi arranhar a crosta terrestre ao perfurar 12 quilômetros, através de um projeto russo na região do Báltico. Pelo avanço do conhecimento sismológico, a previsão de terremotos situa-se em horizonte muito distante. Para muitos cientistas, nem um horizonte longínquo existe.

 

Diante destas incertezas, é necessário reduzir vulnerabilidades, nem sempre possível a todos. Nos países desenvolvidos, há recursos e tecnologia disponível para construir edificações a prova de sismos. Mas, nem mesmo lá, a segurança é total, pois existem estoques de construções antigas, claramente vulneráveis a terremotos importantes. Pior é o cenário dos países carentes de recursos financeiros e de tecnologia moderna, perigosamente situados em regiões de alto risco sísmico.

 

Tufões e terremotos são fenômenos naturais que sempre representarão perigo para várias localidades mundiais e não apenas aos países e regiões já mencionadas. Mas eles existem desde a consolidação da crosta terrestre e do surgimento dos oceanos e da atmosfera. Portanto, bem antes de o homem surgir no planeta. Nos cabe aprender a conviver com tais fenômenos e para aumentar nossa segurança necessitamos aprimorar sistemas de defesa e de monitoramento instrumental e avançar no conhecimento científico.

 

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